quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Você está apaixonado por seu candidato? Notas sobre os efeitos da paixão abusiva na política institucional.

 


"Figuras populistas frequentemente geram sentimentos de paixão na população, daquelas bem intensas.
Quando falamos com uma pessoa que é 100% Fulano, muitas vezes estamos falando de um apaixonado.
Daquele tipo de conversa em que tudo que falamos, todos os alertas, denúncias, tudo é tido como maquinação para destruir a relação. Para quem está apaixonado desse jeito, todas as dissidências que escuta são colocadas como parte de um plano maquiavélico de mentiras e distorções contra o seu amor (supostamente) perfeito. Há aí uma barreira emocional na escuta.
Esse tipo de paixão produz uma redução cognitiva, na medida em que só consegue acessar coisas positivas relacionadas ao objeto idealizado.

Quanto mais denúncias vêm, tanto mais a pessoa apaixonada acredita estar sendo alvo de perseguição.
É uma posição muito confortável para esse ídolo, já que ele se sente confortável para fazer o que quiser, sabendo que os apaixonados continuarão a defendê-lo.
Nesses casos, apenas a frustração repetida e continuada conduz, a médio e longo prazo, ao caminho de compreensão de que essas tantas vozes não eram tão mentirosas e enganosas como se supunha.
Nesse quadro de paixão delirante, os "fatos" têm pouco espaço, pois não há escuta minimamente elaborada emocionalmente para discursos que possam arriscar a intensidade viciante dessa paixão-ódio.
Tanto por isso que o combate às fake news encontra tantos desafios: antes dos fatos, estão os afetos, as paixões, que reduzem ou ampliam nossa escuta.
É difícil para o apaixonado admitir que seu ídolo é violento e abusivo, pois imagina que isso o colocaria na posição de quem foi "trouxa", enganado, por isso a defesa segue a todo custo.
Há uma ameaça, politicamente induzida, aos fiéis/apaixonados para que não deixem de adorar seu ídolo. Mas não se trata de simplesmente trocar um líder por outro nessa paixão política, mas da importância de compreender que nesse momento, Lula ganhar é uma redução de danos necessária e urgente, visto que a continuidade de bolsonaro nos é absolutamente violenta.
Não precisamos de um grande pai, deus, príncipe ou messias que nos salve, virar essa chave é o que quebra o ciclo abusivo."
Geni Nuñez - @genipapos
Assista a live completa "Descatequizar para descolonizar" com Geni Núñez em meu canal no Youtube 
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

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Você está apaixonado por seu candidato? Notas sobre os efeitos da paixão abusiva na política institucional.

 


"Figuras populistas frequentemente geram sentimentos de paixão na população, daquelas bem intensas.
Quando falamos com uma pessoa que é 100% Fulano, muitas vezes estamos falando de um apaixonado.
Daquele tipo de conversa em que tudo que falamos, todos os alertas, denúncias, tudo é tido como maquinação para destruir a relação. Para quem está apaixonado desse jeito, todas as dissidências que escuta são colocadas como parte de um plano maquiavélico de mentiras e distorções contra o seu amor (supostamente) perfeito. Há aí uma barreira emocional na escuta.
Esse tipo de paixão produz uma redução cognitiva, na medida em que só consegue acessar coisas positivas relacionadas ao objeto idealizado.

Quanto mais denúncias vêm, tanto mais a pessoa apaixonada acredita estar sendo alvo de perseguição.
É uma posição muito confortável para esse ídolo, já que ele se sente confortável para fazer o que quiser, sabendo que os apaixonados continuarão a defendê-lo.
Nesses casos, apenas a frustração repetida e continuada conduz, a médio e longo prazo, ao caminho de compreensão de que essas tantas vozes não eram tão mentirosas e enganosas como se supunha.
Nesse quadro de paixão delirante, os "fatos" têm pouco espaço, pois não há escuta minimamente elaborada emocionalmente para discursos que possam arriscar a intensidade viciante dessa paixão-ódio.
Tanto por isso que o combate às fake news encontra tantos desafios: antes dos fatos, estão os afetos, as paixões, que reduzem ou ampliam nossa escuta.
É difícil para o apaixonado admitir que seu ídolo é violento e abusivo, pois imagina que isso o colocaria na posição de quem foi "trouxa", enganado, por isso a defesa segue a todo custo.
Há uma ameaça, politicamente induzida, aos fiéis/apaixonados para que não deixem de adorar seu ídolo. Mas não se trata de simplesmente trocar um líder por outro nessa paixão política, mas da importância de compreender que nesse momento, Lula ganhar é uma redução de danos necessária e urgente, visto que a continuidade de bolsonaro nos é absolutamente violenta.
Não precisamos de um grande pai, deus, príncipe ou messias que nos salve, virar essa chave é o que quebra o ciclo abusivo."
Geni Nuñez - @genipapos
Assista a live completa "Descatequizar para descolonizar" com Geni Núñez em meu canal no Youtube 
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s