A palavra hebraica “satan” (שטן) significa “adversário”. Este adversário
pode ser humano, como Adad, rei edomita que se coloca como “satan” (adversário)
de Salomão (1Rs 11,14). Por vezes este “adversário” aparece na corte celeste,
representado por um dos bney haelohim (filhos de elohim), exercendo a
função de advogado de acusação (cf. Jó 1,6). Ele não é adversário de Yahweh,
mas das criaturas humanas. Sua função é colocá-las à prova.
Apenas em Crônicas “Satan” (agora com “s” maiúsculo, cf. 1Cr
21,1) indica o adversário de Yahweh. O termo aparece sem artigo e claramente
revela que a teologia judaíta sofreu uma mudança, passando a tratar o antigo
membro da corte celeste encarregado de apontar as faltas humanas como opositor
do próprio Yahweh. Aqui é possível notar a influência do dualismo persa.
Antes de ser incorporada essa “novidade”, a ideia que se
tinha de Yahweh era bem diferente: era ele quem fazia tanto o que era bom
quanto o que era mau (cf. Is 45,7). Repare que em 2 Sm 24,1 é o próprio Yahweh
quem incita Davi a realizar o recenseamento (veja também 1Rs 22,20-23). Mas em
Crônicas, texto tardio já influenciado pelo dualismo persa, uma nova interpretação
do episódio é apresentada: não foi Yahweh, mas Satan quem incitou Davi a
cometer este tropeço (2Cr 21,1).
No Novo Testamento a crença na existência de Satanás como
opositor de Yahweh aparece com força. A novidade é que agora ele tem ao seu lado
um exército de anjos rebeldes, os “caídos” (נפיל), também chamados de “Vigilantes” no livro
de Enoque. Reflexos dessa crença aparecem no livro de Judas (v.6), de Pedro
(2Pe 2,4) e no Apocalipse (12,4).
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