quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Reflexões sobre os desafios da descolonização: é preciso se despedir da positivação das monoculturas para se libertar de fato.

 


A descolonização nunca chegará de fato a quem continuar atribuindo à colonização uma essência positiva.
O cristianismo é a bússola de toda a moral dominante sobre sexo, culpa, mérito, subordinação, hierarquia, desvalorização da vida terrena e da carne x o céu superior, vida verdadeira, etc.
Apesar de todo o lastro de sangue, o cristianismo segue defendido e isso continua acontecendo através da positivação de Jesus. Podem até admitir as violências que a instituição cristã tem trazido, mas ainda acham que esses efeitos são provas da conduta dos "falsos cristãos", que desobedecem à suposta verdadeira essência boa do cristianismo: Jesus, amor, perdão, caridade. É exatamente aqui que está a armadilha: todas as violências coloniais são feitas em nome do amor, da família, do bem. Não tem nada de revolucionário em conceder milagres (exceções) por moral, em destruir templos de religiões alheias, nada de incrível em "perdoar" o crime/pecado de adultério (revolucionário seria não considerar o direito ao próprio corpo uma infração).
Moral não é só o mal, é sobretudo sobre o bem. Esse é o veneno do cristianismo. Não dá pra se incomodar com a ideia da existência de um inferno sem questionar também o céu. Antes de elogiar o perdão, é preciso questionar a invenção da dívida e do pecado que inventam essa conta. Não precisamos de perdão, nem de salvação, não nascemos do pecado, nem devemos viver em torno dele.
O que peço aqui é que quem estiver me lendo considere como uma hipótese: por acaso o cristianismo seria tão alastrado no planeta se a figura de Jesus não fosse positiva? Essa estrutura precisa que acreditemos que sua essência é positiva e saudável, para que a prática, apenas, seja vista como erro.
Percebemos que a própria teoria, a própria base do cristianismo é perversa. "Salvar" outros povos é o mesmo que colonizar, "perdoar" o que se inventa como pecado é o mesmo que chantagear.
Toda monocultura se positiva da negativação alheia. Pra provar que ama um não pode amar outro, na fé, na cama, na lei.
Questionando isso conseguiremos nos libertar de verdade do terrorismo cristão colonial e pararemos de tentar, finalmente, de ressignificar e reciclar essas lógicas.
Bora?

Texto de Geni Nuñez - @genipapos no  Instagram

Assista a live completa "Descatequizar para descolonizar" com Geni Núñez em meu canal no Youtube - https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2152s


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Reflexões sobre os desafios da descolonização: é preciso se despedir da positivação das monoculturas para se libertar de fato.

 


A descolonização nunca chegará de fato a quem continuar atribuindo à colonização uma essência positiva.
O cristianismo é a bússola de toda a moral dominante sobre sexo, culpa, mérito, subordinação, hierarquia, desvalorização da vida terrena e da carne x o céu superior, vida verdadeira, etc.
Apesar de todo o lastro de sangue, o cristianismo segue defendido e isso continua acontecendo através da positivação de Jesus. Podem até admitir as violências que a instituição cristã tem trazido, mas ainda acham que esses efeitos são provas da conduta dos "falsos cristãos", que desobedecem à suposta verdadeira essência boa do cristianismo: Jesus, amor, perdão, caridade. É exatamente aqui que está a armadilha: todas as violências coloniais são feitas em nome do amor, da família, do bem. Não tem nada de revolucionário em conceder milagres (exceções) por moral, em destruir templos de religiões alheias, nada de incrível em "perdoar" o crime/pecado de adultério (revolucionário seria não considerar o direito ao próprio corpo uma infração).
Moral não é só o mal, é sobretudo sobre o bem. Esse é o veneno do cristianismo. Não dá pra se incomodar com a ideia da existência de um inferno sem questionar também o céu. Antes de elogiar o perdão, é preciso questionar a invenção da dívida e do pecado que inventam essa conta. Não precisamos de perdão, nem de salvação, não nascemos do pecado, nem devemos viver em torno dele.
O que peço aqui é que quem estiver me lendo considere como uma hipótese: por acaso o cristianismo seria tão alastrado no planeta se a figura de Jesus não fosse positiva? Essa estrutura precisa que acreditemos que sua essência é positiva e saudável, para que a prática, apenas, seja vista como erro.
Percebemos que a própria teoria, a própria base do cristianismo é perversa. "Salvar" outros povos é o mesmo que colonizar, "perdoar" o que se inventa como pecado é o mesmo que chantagear.
Toda monocultura se positiva da negativação alheia. Pra provar que ama um não pode amar outro, na fé, na cama, na lei.
Questionando isso conseguiremos nos libertar de verdade do terrorismo cristão colonial e pararemos de tentar, finalmente, de ressignificar e reciclar essas lógicas.
Bora?

Texto de Geni Nuñez - @genipapos no  Instagram

Assista a live completa "Descatequizar para descolonizar" com Geni Núñez em meu canal no Youtube - https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2152s