"Sobre o filme
"não olhe pra cima", tava há pouco - após ler o último texto de @genipapos - pensando sobre a suposta solução que
salvaria a Terra: enviar um monte de bombas nucleares para explodir um inimigo
vindo de fora (no caso, o cometa).
É curiosa essa operação narrativa - se a gente
pensar que a própria existência dessas bombas nucleares, bem como toda a
estrutura militar/imperialista/colonial que lhe sustentam, são uma ameaça muito
mais concreta a vidas e ecossistemas, do que qualquer corpo celeste.
Mas aí o filme precisa "inventar" esse
problema vindo de fora, e a gente finge (por duas horas e vinte minutos
roubando nosso tempo) que o militarismo, a estrutura imperialista/colonial estadunidense
não são um problema - o problema é simplesmente quando "ignoram a
ciência". Se governantes "escutassem a ciência" teríamos
supostamente uma sociedade mais justa, o planeta Terra seria salvo - mesmo que
todo o modo de vida que possibilitou (política e tecnologicamente) a existência
de bombas nucleares permanecesse intacto.
Sinto que o problema não está só nesse filme,
mas em toda uma narrativa política que veio ganhando força desde a pandemia: a
ideia de que apenas a crença na ciência e o combate as "fake news"
bastam pra vivermos numa sociedade melhor. Mas fake news não começaram - o
negacionismo, como Geni bem nos coloca, é fundador do projeto colonial que
fundamenta a existência do Estado.
A ciência pode sim, eventualmente, ser uma
aliada (as vacinas estão aí pra provar), porém por si só não basta. É a forma
como nos organizamos coletivamente que pode efetivamente transformar a
realidade.
Nem o Estado colonial, nem sua estrutura militar
nos salvarão de cometas - fora dos filmes, o Estado colonial e sua estrutura
militar São o próprio cometa. - Raíssa E. Grimm Cabral - @raissa.lesbikaos.psi
.
Fonte: https://www.instagram.com/raissa.lesbikaos.psi/
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