A gente se afasta pra manter a sanidade
E sai de onde está largando tudo para trás
A fim de parar um processo de morte
Do eu, da esperança, da nossa humanidade.
A gente para de manter contato
E não fica mais conversando
Com quem só tira sarro da nossa cara
E faz questão de nos manter por baixo
Ridicularizando, chamando a atenção, corrigindo,
Ou que nos trata como banco de dados, livros ou
respostas,
Quem não nos trata como gente, com respeito e
dignidade.
A gente sai de onde é sabotado
Pra não alimentar desejo de vingança nem
maldade.
A gente sai de onde percebe que está sendo
sugado
Nas energias, no trabalho, no desgaste de
dedicação e nenhum reconhecimento.
A gente deixa pra trás um casamento abusivo
No qual se viveu todo tipo de violência
E deixa pra trás quem achou que era mentira
E nem se importou com a nossa sobrevivência.
A gente larga toda religiosidade
Que mesmo sem instituição continua violentando consciências
Continua manipulando
Então a gente larga mão de tudo isso
E de seu hábito de controlar vidas.
A gente para de defender o indefensável
Prá ajustar o foco do nosso olhar perdido.
A gente deixa de responder mensagens
Com perguntas e textos invasivos.
E para de tentar se justificar pros outros
E de tentar provar que merece respeito.
A gente não faz mais questão de ganhar uma
discussão
Nem de prestar contas pra quem não caminha ao
nosso lado.
A gente para de alimentar falsa esperança
De que os hipócritas e incoerentes vão
reconhecer seu passo em falso.
A gente, finalmente, para de alimentar relação
abusiva
Fundamentada em pedidos de perdão que não se
responsabilizam pelos danos
Nem que buscam reparação.
A gente desliga o coração de quem só nos mata
por dentro
Justificando violência e dor ainda que nos perca
aos poucos.
Assim a gente segue em busca de paz.
Não tranquilidade, mas paz consigo mesmo.
Não há nada que pague o passo alinhado à
consciência
Sem a necessidade de andar mal acompanhado.
Angela Natel
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