"O sistema do
patriarcado só pode funcionar com a cooperação das mulheres. Esta cooperação é
assegurada por uma variedade de meios: doutrinação de gênero; privação
educacional; a negação às mulheres do conhecimento de sua história, a divisão
das mulheres, uma da outra, definindo 'respeitabilidade' e 'desvio' de acordo
com as atividades sexuais das mulheres; por restrições e coerção direta; pela
discriminação no acesso aos recursos econômicos e ao poder político; e pela
concessão de privilégios de classe para conformar as mulheres...
As mulheres participam há
milênios do processo de sua própria subordinação porque foram psicologicamente
moldadas de modo a interiorizar a ideia de sua própria inferioridade. O
desconhecimento de sua própria história de luta e realização tem sido um dos
principais meios de manter as mulheres subordinadas...
Vimos como os homens se
apropriaram e depois transformaram os principais símbolos do poder feminino; o
poder da Deusa-Mãe e das Deusas da fertilidade. Vimos como os homens
construíram teologias baseadas na metáfora contrafactual da procriação
masculina e redefiniram a existência feminina de uma forma estreita e
sexualmente dependente. Finalmente, vimos como as próprias metáforas do gênero
expressaram o macho como norma e a fêmea como desviante; o macho como um todo e
poderoso, a fêmea como inacabada, mutilada e sem autonomia. Com base em tais
construções simbólicas, embutidas na filosofia grega, nas teologias
judaico-cristãs e na tradição jurídica sobre a qual a civilização ocidental é
construída, os homens explicaram o mundo em seus próprios termos e definiram as
questões importantes de modo a se tornarem o centro do discurso".
~ Gerda Lerner, "A
Criação do Patriarcado".
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