"O doutor Roberto
Romano, professor titular de Ética e Filosofia Política da UNICAMP, comenta que
"ao contrário da igualdade radical dos entes humanos, as doutrinas cristãs
ergueram um sistema hierárquico que postula a desigualdade como fundamento e
alvo político".
Todo o vocabulário monarquista nos aponta a
essência hierárquica: reino dos céus, servos de Deus, Deus acima de todos,
anjos acima de humanos, homens acima de mulheres e assim se segue na escala de
privilégios. A base de quem merece morrer (inferno) e quem merece ir pro céu.
Em lemas com "Ordem e progresso" vemos
a referência positivista também impregnada pela crença de que se a hierarquia
for mantida, tudo correrá bem (progresso). A ordem aqui é referente tanto à
ordem das coisas, do que "naturalmente" vem primeiro, do que está
acima e o que deve estar abaixo, como também à ordem no sentido de ordenar, de
mandar, de proibir. Desobedecer a ordem é desafiar a pretensa naturalidade
dessa hierarquia (argumento reivindicado por diferentes segmentos de direita).
A hierarquia presente da base filosófica do
cristianismo é uma importante inspiração para movimentos como o de
terraplanistas. Estes recusam explicações heliocêntricas também por entender
que isso desafia o pensamento bíblico, no qual o homem é feito à imagem e
semelhança de Deus e estando na Terra, seria também ela o centro do mundo.
"Mas nem todo cristão..." sim, há quem
dentro desse sistema o desobedece, mas o tema aqui é sua orientação filosófica
de base.
Para muitos de nossos povos, não existe a
sobrenatureza, não há quem seja essencialmente superior ou um céu que legitime
o inferior e a existência do inferno.
Não há do que sermos salvos, não há hierarquia.
Há sim, múltiplas e horizontais diferenças, em que a concomitância e a
convivência da diversidade é a verdadeira natureza.
Ousar pensar a vida e saúde para além do mérito
é nossa tarefa de todos os dias."
Autora: Geni Núñez - @genipapos
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#descatequizarparadescolonizar
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