Você já ouviu falar do
conceito de “policiamento de tom”? Em seu livro “Me and White Supremacy”, a
escritora Layla F. Saad define o conceito como a tática usada por aqueles que
detêm privilégios para silenciar aqueles que não tem. A estratégia funciona focando
no tom do que está sendo dito em vez de focar no conteúdo do que está sendo
dito.
O policiamento de tom aparece quando pessoas
marginalizadas são apontadas como agressivas, violentas, ao falarem de suas
vivências. Quando cobram de nós pessoas negras e indígenas, pessoas LGBT, PcDs
didatismo, quando falamos sobre racismo, lgbtfobia, capatismo, por exemplo.
Focam em nossa raiva ao falar do que nos dói para desmoralizar nossos
argumentos e apontamentos.
Vivemos em um país com um genocído em curso da população
negra e indígena, sendo organizado pelo próprio Estado. O país que mais mata
travestis e pessoas trans no mundo, segundo dossiê de 2020 da ANTRA. Nós
vivemos com um alvo nas costas, como não estar com constante raiva? As
violências produzidas pelas diversas estruturas de opressão se interligam e nós
somos atravessados por várias delas.
O policiamento de tom também acontece no meio
não-mono. Nós aqui no projeto vivenciamos isso. Constantemente somos atacados
por propor um direcionamento radical e revolucionário. Quem se incomoda com a
Não-monogamia Política? Quem se incomoda com a proposição de futuros coletivos
e emancipatórios? Somos um projeto de pessoas racializadas, LGBT, de diversas
regiões desse território. Produzimos a partir do que estudamos e também vivemos
diariamente.
Ficamos com Audre Lorde e seus apontamentos sobre
os usos da raiva. A canalizando e transformando em força de ação, luta e
resistência. Temos consciência do porquê determinadas proposições incomodam,
mas temos um compromisso com esse direcionamento político que é construído
diariamente em diversas lutas. E não vamos nos calar perante o policiamento de
tom alheio e os incômodos daqueles que estão no alto de seus privilégios.
Texto: Newton Jr
Referências:
LORDE, Audre. Os usos da raiva: as mulheres reagem
ao racismo. In: LORDE, Audre. Irmã outsider. 1. ed. Belo
horizonte: Autêntica, 2019 [1984]. cap. 12, p. 155 - 167. ISBN 9788551304311
SAAD. Layla. F. Me and White Supremacy. 1. ed. Illinois: Sourcebooks. 2020. 200 p.
Fonte: https://www.instagram.com/p/Cb-TUZCsn5E/?utm_medium=share_sheet
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