Não, não está tudo bem.
Vc não me conhece, não convive comigo, supõe coisas a meu respeito
E ainda se acha no direito de me pedir satisfação.
Não, não está tudo bem.
Tudo é muita coisa
E vc reclama de generalizações
Mantendo esse costume
De perguntar de forma generalizada
Pra mostrar preocupação.
Não, não está tudo bem.
Dá uma de otimista
Dizendo que espera o melhor
Num otimismo tóxico
Que minimiza e deslegitima o sofrimento alheio.
Não, não está tudo bem.
Vc fica na torcida
Como se estivéssemos num jogo
Sem responsabilização
Na espera de que as coisas se ajeitem.
Não, não está tudo bem.
Quando se ainda busca salvar a instituição
Procurando nela exceções à regra
Criando caras e bocas modernas
Progressistas
Para o mesmo sistema de opressão.
Não, não está tudo bem.
Quando o vínculo é utilitarista
E o que tenho são pedidos
E mais pedidos e requisições
E expectativas,
Nenhuma preocupação
Apenas suposições.
Não, não está tudo bem.
Então não use os meios pra me exigir
Me julgar, supor, condenar,
Nem ditar o que devo ou não fazer
Em meu tempo livre
Em minhas redes pessoais.
Não, não está tudo bem.
Enquanto gente for tratada como máquina
Ou somente pela posição que ocupa
Por sua profissão e atividades
Quando o pessoal é silenciado
E o diverso coibido
Não, não está tudo bem.
Quando vêem às redes pessoais
Para vigiar, controlar e determinar
A dignidade de poder trabalhar
Quando se julga o profissional pelo pessoal
E desmerece a voz no público
Elogiando somente no privado
Não, não está tudo bem.
Então não venha me perguntar
Sem ao menos parar pra pensar
Que no contexto complexo em que vivemos
Em meio às desigualdades e injustiças
Em meio a tantas expectativas
Não, não está tudo bem.
Angela Natel
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