É preciso pensar como eu
Agir como eu
Não me
incomodar
Não me contrariar
Não me irritar
Para estar ao
meu lado
Para que eu
possa te amar.
Relação que
condiciona
Que não sabe estar do lado sem chamar a
atenção
Sem perceber as
diferenças e desrespeitá-las
Sem pressionar
para mudança
Sem querer impor
crenças, costumes.
Assim, o outro
não pode
Expressar discordância
Muito menos denunciar
a injustiça
E a incoerência
Porque senão
perde o
“amor incondicional”
E é obrigado a
sofrer retaliações,
E, pior, a
falta de interesse, preocupação,
O descaso, o
silêncio, a indiferença.
E perde-se a utilidade,
então se é descartado.
Sim, pra ficar
do lado, é preciso concordar,
É preciso se
despir de si mesmo, perder a identidade
Perder o
respeito por si próprio e se ajustar
E aplaudir, e
manter a reputação alheia
E seus desejos
e desmandos.
Não é possível
se manifestar
Não é possível
denunciar abusos
Nem colocar pra
fora a angústia de viver refém
Porque “quem
paga, manda”, como se estivéssemos à venda,
E pensam estar
comprando a consciência
Para controlar,
para submeter a vontade,
A ação, a reação.
Então, existe
amor incondicional de verdade?
Existe a tal
igualdade?
Porque nem o
Deus pregado por aí mantém iguais
As oportunidades.
Uns nascem sem
condições, limitadíssimos,
Completamente dependentes
dos privilegiados.
Outros nascem
com alvo nas costas,
Destinados a
serem a vida toda acusados.
Então, que
incondicionalidade é essa?
Graça que não é
barata? Sacrifício exigido,
Enquanto esmaga
os desiguais.
E isso é refletido
nas relações
Que giram em torno
das figuras narcísicas.
Tudo o que é feito
é cobrado, de uma maneira ou de outra.
O que se ganha
é usado para apontar melhor fé,
Posição de
privilégio que denuncia desigualdade e injustiça.
Violência que
culpa as vítimas de uma estrutura esmagadoramente cruel.
Não há amor
incondicional.
Aprendi a duras
penas.
Não há NENHUM.
Angela Natel
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