terça-feira, 27 de julho de 2021

Amor incondicional?

É preciso pensar como eu

Agir como eu

Não me incomodar

Não me contrariar

Não me irritar

Para estar ao meu lado

Para que eu possa te amar.

 

Relação que condiciona

 Que não sabe estar do lado sem chamar a atenção

Sem perceber as diferenças e desrespeitá-las

Sem pressionar para mudança

Sem querer impor crenças, costumes.

 

Assim, o outro não pode

Expressar discordância

Muito menos denunciar a injustiça

E a incoerência

Porque senão perde o

“amor incondicional”

E é obrigado a sofrer retaliações,

E, pior, a falta de interesse, preocupação,

O descaso, o silêncio, a indiferença.

E perde-se a utilidade, então se é descartado.

 

Sim, pra ficar do lado, é preciso concordar,

É preciso se despir de si mesmo, perder a identidade

Perder o respeito por si próprio e se ajustar

E aplaudir, e manter a reputação alheia

E seus desejos e desmandos.

Não é possível se manifestar

Não é possível denunciar abusos

Nem colocar pra fora a angústia de viver refém

Porque “quem paga, manda”, como se estivéssemos à venda,

E pensam estar comprando a consciência

Para controlar, para submeter a vontade,

A ação, a reação.

 

Então, existe amor incondicional de verdade?

Existe a tal igualdade?

Porque nem o Deus pregado por aí mantém iguais

As oportunidades.

Uns nascem sem condições, limitadíssimos,

Completamente dependentes dos privilegiados.

Outros nascem com alvo nas costas,

Destinados a serem a vida toda acusados.

Então, que incondicionalidade é essa?

Graça que não é barata? Sacrifício exigido,

Enquanto esmaga os desiguais.

 

E isso é refletido nas relações

Que giram em torno das figuras narcísicas.

Tudo o que é feito é cobrado, de uma maneira ou de outra.

O que se ganha é usado para apontar melhor fé,

Posição de privilégio que denuncia desigualdade e injustiça.

Violência que culpa as vítimas de uma estrutura esmagadoramente cruel.

 

Não há amor incondicional.

Aprendi a duras penas.

Não há NENHUM.

 

Angela Natel 

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Amor incondicional?

É preciso pensar como eu

Agir como eu

Não me incomodar

Não me contrariar

Não me irritar

Para estar ao meu lado

Para que eu possa te amar.

 

Relação que condiciona

 Que não sabe estar do lado sem chamar a atenção

Sem perceber as diferenças e desrespeitá-las

Sem pressionar para mudança

Sem querer impor crenças, costumes.

 

Assim, o outro não pode

Expressar discordância

Muito menos denunciar a injustiça

E a incoerência

Porque senão perde o

“amor incondicional”

E é obrigado a sofrer retaliações,

E, pior, a falta de interesse, preocupação,

O descaso, o silêncio, a indiferença.

E perde-se a utilidade, então se é descartado.

 

Sim, pra ficar do lado, é preciso concordar,

É preciso se despir de si mesmo, perder a identidade

Perder o respeito por si próprio e se ajustar

E aplaudir, e manter a reputação alheia

E seus desejos e desmandos.

Não é possível se manifestar

Não é possível denunciar abusos

Nem colocar pra fora a angústia de viver refém

Porque “quem paga, manda”, como se estivéssemos à venda,

E pensam estar comprando a consciência

Para controlar, para submeter a vontade,

A ação, a reação.

 

Então, existe amor incondicional de verdade?

Existe a tal igualdade?

Porque nem o Deus pregado por aí mantém iguais

As oportunidades.

Uns nascem sem condições, limitadíssimos,

Completamente dependentes dos privilegiados.

Outros nascem com alvo nas costas,

Destinados a serem a vida toda acusados.

Então, que incondicionalidade é essa?

Graça que não é barata? Sacrifício exigido,

Enquanto esmaga os desiguais.

 

E isso é refletido nas relações

Que giram em torno das figuras narcísicas.

Tudo o que é feito é cobrado, de uma maneira ou de outra.

O que se ganha é usado para apontar melhor fé,

Posição de privilégio que denuncia desigualdade e injustiça.

Violência que culpa as vítimas de uma estrutura esmagadoramente cruel.

 

Não há amor incondicional.

Aprendi a duras penas.

Não há NENHUM.

 

Angela Natel