quinta-feira, 17 de junho de 2021

Poema-reflexão

 


O mundo todo apavorado

Tomando medidas

Precaução

Preocupado.

Todos corremos risco

Não há ninguém ileso naturalmente

Apenas há alguns

– uma verdadeira minoria

Privilegiada

Que pode se manter intacta

Que pode cuidar dos seus.

A maioria

– os vulneráveis da sociedade –

Precisa correr atrás do pão

Pois o pão

– bem lembrou meu amigo Wellington –

Não é nosso, de fato,

É de quem serve ao deus Mercado.

200 reais não pagam um quarto de uma cesta básica.

E quem mais trabalha é quem menos ganha

E mais se arrisca

Nessa pandemia.

Muitos desempregados.

Muitos assolados com as perdas,

Familiares das vítimas

De uma má administração pública

Dessa crise pandêmica.

Porque recursos existem

Mas o deus Mercado exige sacrifícios

E Mamon não é facilmente saciado.

Cristãos somente preocupados

Com a manutenção de seus prédios irrelevantes

Vazios de vida e de boas notícias permanentes.

Faculdades teológicas,

Formadoras de líderes religiosos –

Mantém seu culto ao dinheiro e ao poder

Que despreza o risco das vidas sob sua tutela.

São ameaças silenciosas para manter o sistema

Que não admite ser contrariado

Enquanto sacrifica

Através de seus mercenários da fé

Que roubam, matam e destroem continuamente.

“Não fechem os templos! Não parem as aulas!”

Há muito dinheiro em jogo!

O pão que repartimos é recheado de veneno indispensável.

É o desprezo pela vida,

Alimentando as mentiras

E ignorando fatos.

Fechando os olhos para as mortes, o risco, o assassinado.

Porque sim, é assassinato!

Não morreu porque chegou a sua hora,

Não era para ser assim,

Não estava escrito,

Não foi destino nem teve um propósito.

Senão, a profecia não seria necessária,

E tudo o que dizemos crer se inutilizaria.

Verdadeiro ato profético

É responsabilização.

E eu responsabilizo

Todo o que se isenta de proteger seu irmão,

Todo o que fecha os olhos para o risco que as vidas correm,

Todo o que baixa a cabeça para quem tem dinheiro e poder,

Todo o que se deixa acreditar pelas palavras de ‘Paz! Paz!’ quando não há paz.

Eu responsabilizo todo o que age e ri e ignora a necessidade.

Todo o que não se faz parte do cuidado, da solução, da proteção da vida.

Sim, viver profeticamente é responsabilizar-se

E assumir ação proativamente em favor dos vulneráveis,

Ainda que venha perseguição, ainda que venha retaliação.

É preciso se posicionar profeticamente,

E não mais viver de maneira fatalista, entregando-se às falas mentirosas

Que pregam união de um povo sob um Estado criado às custas do sangue de povos originários.

Assassinos!

Que não sejamos cúmplices, que nos responsabilizemos,

E cuidemos uns dos outros

Repartindo nosso pão,

– o pão nosso –

Abrindo mão de privilégios,

Não mais negociando vidas em favor de instituições

E sistemas.

Deixando vazio o altar de Mamon.

Porque o Bom Pastor cuida de suas ovelhas.

Ele não é como o mercenário, o ladrão,

Que cuida das ovelhas a fim de extorquir delas o que lhe apraz.

Quando o lobo aparece, o ladrão, o mercenário, o falso pastor, foge

Deixando as ovelhas à mercê do que lhes pode matar.

Mas o Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas.

Assim, reconheço os mercenários da fé por sua postura de expor a vida das pessoas

Ao risco de morte nessa pandemia

Em nome de seus interesses, suas instituições, sejam elas Igrejas, sejam faculdades teológicas,

E em nome da manutenção desse império, dessa máfia de ladrões

Vidas são perdidas, sacrificadas

A Mamon, ao Mercado, ao Império – ao César responsável pela crucificação de Jesus:

O poder.

Ladrões! Eu os responsabilizo

Por cada sangue derramado – indígenas, quilombolas, mulheres sob o jugo da violência doméstica, vidas perdidas pelo vírus, pela mentira, pela omissão.

Eu os responsabilizo por toda propaganda política em nome de um falso messias,

Em nome de favores missionários colonizadores.

Eu os responsabilizo por toda sujeira que vem sendo espalhada por onde seu falso evangelho é pregado, por onde essa teologia maligna, podre e vil está sendo ensinada.

Pastores conservadores e progressistas que mantém as pessoas presas sob moralismos, anacronismos e usos de um texto completamente mal interpretado, tudo por uma plateia que os aplauda. São as mesmas táticas de manipulação usadas dos dois lados - os dois lados da mesma moeda do controle das mentes através de textos de outras épocas, outras realidades completamente distintas.

São formas de alienação e ilusão de que culturas, políticas e costumes de outros povos em circunstâncias distintas possam ser aplicados à nossa realidade, indiscriminadamente.

E os preconceitos, as opressões, se mantêm velados sob uma capa de inclusão apenas dos que dão ibope e circulação.

Enquanto isso, vidas são desprezadas, mortas, linchadas, tendo até mesmo sua estética questionada.

Não, não se diferenciam em sua política de morte e exclusão.

Que sejam responsabilizados nessa vida, na eternidade.

Angela Natel

 


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Poema-reflexão

 


O mundo todo apavorado

Tomando medidas

Precaução

Preocupado.

Todos corremos risco

Não há ninguém ileso naturalmente

Apenas há alguns

– uma verdadeira minoria

Privilegiada

Que pode se manter intacta

Que pode cuidar dos seus.

A maioria

– os vulneráveis da sociedade –

Precisa correr atrás do pão

Pois o pão

– bem lembrou meu amigo Wellington –

Não é nosso, de fato,

É de quem serve ao deus Mercado.

200 reais não pagam um quarto de uma cesta básica.

E quem mais trabalha é quem menos ganha

E mais se arrisca

Nessa pandemia.

Muitos desempregados.

Muitos assolados com as perdas,

Familiares das vítimas

De uma má administração pública

Dessa crise pandêmica.

Porque recursos existem

Mas o deus Mercado exige sacrifícios

E Mamon não é facilmente saciado.

Cristãos somente preocupados

Com a manutenção de seus prédios irrelevantes

Vazios de vida e de boas notícias permanentes.

Faculdades teológicas,

Formadoras de líderes religiosos –

Mantém seu culto ao dinheiro e ao poder

Que despreza o risco das vidas sob sua tutela.

São ameaças silenciosas para manter o sistema

Que não admite ser contrariado

Enquanto sacrifica

Através de seus mercenários da fé

Que roubam, matam e destroem continuamente.

“Não fechem os templos! Não parem as aulas!”

Há muito dinheiro em jogo!

O pão que repartimos é recheado de veneno indispensável.

É o desprezo pela vida,

Alimentando as mentiras

E ignorando fatos.

Fechando os olhos para as mortes, o risco, o assassinado.

Porque sim, é assassinato!

Não morreu porque chegou a sua hora,

Não era para ser assim,

Não estava escrito,

Não foi destino nem teve um propósito.

Senão, a profecia não seria necessária,

E tudo o que dizemos crer se inutilizaria.

Verdadeiro ato profético

É responsabilização.

E eu responsabilizo

Todo o que se isenta de proteger seu irmão,

Todo o que fecha os olhos para o risco que as vidas correm,

Todo o que baixa a cabeça para quem tem dinheiro e poder,

Todo o que se deixa acreditar pelas palavras de ‘Paz! Paz!’ quando não há paz.

Eu responsabilizo todo o que age e ri e ignora a necessidade.

Todo o que não se faz parte do cuidado, da solução, da proteção da vida.

Sim, viver profeticamente é responsabilizar-se

E assumir ação proativamente em favor dos vulneráveis,

Ainda que venha perseguição, ainda que venha retaliação.

É preciso se posicionar profeticamente,

E não mais viver de maneira fatalista, entregando-se às falas mentirosas

Que pregam união de um povo sob um Estado criado às custas do sangue de povos originários.

Assassinos!

Que não sejamos cúmplices, que nos responsabilizemos,

E cuidemos uns dos outros

Repartindo nosso pão,

– o pão nosso –

Abrindo mão de privilégios,

Não mais negociando vidas em favor de instituições

E sistemas.

Deixando vazio o altar de Mamon.

Porque o Bom Pastor cuida de suas ovelhas.

Ele não é como o mercenário, o ladrão,

Que cuida das ovelhas a fim de extorquir delas o que lhe apraz.

Quando o lobo aparece, o ladrão, o mercenário, o falso pastor, foge

Deixando as ovelhas à mercê do que lhes pode matar.

Mas o Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas.

Assim, reconheço os mercenários da fé por sua postura de expor a vida das pessoas

Ao risco de morte nessa pandemia

Em nome de seus interesses, suas instituições, sejam elas Igrejas, sejam faculdades teológicas,

E em nome da manutenção desse império, dessa máfia de ladrões

Vidas são perdidas, sacrificadas

A Mamon, ao Mercado, ao Império – ao César responsável pela crucificação de Jesus:

O poder.

Ladrões! Eu os responsabilizo

Por cada sangue derramado – indígenas, quilombolas, mulheres sob o jugo da violência doméstica, vidas perdidas pelo vírus, pela mentira, pela omissão.

Eu os responsabilizo por toda propaganda política em nome de um falso messias,

Em nome de favores missionários colonizadores.

Eu os responsabilizo por toda sujeira que vem sendo espalhada por onde seu falso evangelho é pregado, por onde essa teologia maligna, podre e vil está sendo ensinada.

Pastores conservadores e progressistas que mantém as pessoas presas sob moralismos, anacronismos e usos de um texto completamente mal interpretado, tudo por uma plateia que os aplauda. São as mesmas táticas de manipulação usadas dos dois lados - os dois lados da mesma moeda do controle das mentes através de textos de outras épocas, outras realidades completamente distintas.

São formas de alienação e ilusão de que culturas, políticas e costumes de outros povos em circunstâncias distintas possam ser aplicados à nossa realidade, indiscriminadamente.

E os preconceitos, as opressões, se mantêm velados sob uma capa de inclusão apenas dos que dão ibope e circulação.

Enquanto isso, vidas são desprezadas, mortas, linchadas, tendo até mesmo sua estética questionada.

Não, não se diferenciam em sua política de morte e exclusão.

Que sejam responsabilizados nessa vida, na eternidade.

Angela Natel