Preciso dizer que estou enojada
com a igreja brasileira, seja de qual denominação ou linha teológica, por sua
inércia, omissão e hipocrisia. Por sua exegese porca, nojenta, genocida e
violenta.
A ponto de usarem textos supostamente voltados
para a obediência à “autoridade” sem se dar o trabalho de fazer uma exegese
decente, sem saber interpretar o texto e fazer uma boa hermenêutica com o nosso
contexto atual.
É muito medo de ir contra o sistema e pouco
medo de ser cúmplice do genocídio.
O Holocausto é
um marco na história e na teologia também, porque ensina que uma teologia que
não é capaz de se reestruturar a fim de dar conta da realidade só serve a si
mesma e não serve pra nada.
Recomendo
pesquisa sobre o tribunal de Nuremberg e mais especificamente as leituras de
Hans Jonas e Dietrich Bonhoëffer.
O trato com as
supostas "autoridades", a postura diante do massacre, da injustiça e
do genocídio.
Uma teologia que
só serve a si mesma não serve para nada!
Muitos estudam a teologia de Bonhoëffer
desconectada de sua posição diante da vida e da história. Ledo engano!
Nenhuma teologia
é construída fora de seu contexto!
É nojento o que a igreja está fazendo. - “Ah, Angela,
mas não é toda igreja, não é todo crente!” - eu estou enojada. Não venham
querer defender igreja aqui, não venham querer defender teologias aqui.
Porque
quem se diz estar contra o genocídio que está acontecendo no Brasil, o máximo
que é feito é se manifestar em redes sociais, é o máximo! A ação pública não se
dá virtualmente, o profetismo virtual vai para o lixo da história. Então, nem
venha tentar discutir aqui em minha rede.
Esse lixo de proclamação hipócrita de jejum em
favor do governo, que bem o Wellington Barbosa publicou e eu compartilhei no
meu Instagram, é completamente incoerente com quem diz seguir a Jesus.
Pessoas que se dizem cristãs, que se envolvem
no partidarismo político e que não tem a capacidade de viver e conviver numa favela,
usam as pautas da favela para se promover e promover seu partidarismo em época
de eleição. Pastores que se julgam num alto nível de espiritualidade a fim de
poder mandar “tomar naquele lugar”, é lixo! É lixo esse tipo de manifestação
vindo de qualquer lugar na igreja brasileira.
O máximo que os líderes que se dizem cristãos
do Brasil estão fazendo é consolar enlutado, porque nem enterrar os mortos
podem mais por causa da situação atual. Mas as pessoas estão passando fome.
Qual é a atitude da igreja brasileira em
relação as pessoas que estão passando fome? Qual é o posicionamento das igrejas
brasileiras em relação à defesa do SUS? Qual é a resistência que a igreja
brasileira está fazendo contra essas ações políticas? Que tipo de manifestação
existe?
Mais uma linda nota de repúdio? Vai
colocar mais um pedido de impeachment para arquivar? É isso a igreja brasileira:
omissão e inércia.
Então não venha querer usar a sua teologia
completamente desatualizada, montada sobre uma história da igreja manipuladora
e violenta, em cima de uma exegese porca, um lixo de exegese malfeita, vir
justificar a hipocrisia e a inércia e essa irrelevância do cristianismo no
Brasil.
Não venha querer defender igreja nem teologia aqui, porque é muito
bonitinho você ficar só massageando o ego da sua igreja e da sua teologia.
– “Eu só posso ser contra autoridade se eu for perseguido por ser
cristão.” - Olha o tipo de exegese que é feita sobre esse texto, dando um
conceito pós-moderno de ser cristão, inserindo a sua mentalidade pós-moderna para
dentro de um texto, num contexto completamente diferente, para leitores completamente
distintos de cosmovisão.
Antes de vir fazer reflexões achando que sua
única função é consolar os familiares dos mortos ou ficar fazendo assistência social
dando pratinho de comida de mão em mão, sem fazer uma resistência eficaz, sem se
expor, sem correr nenhum tipo de risco em nome da vida como Jesus correu, não
venha me dizer que você segue esse Homem.
Seguir a Jesus é coisa bem diferente do que
você tá fazendo. Você pode sim ter a sua fé e a sua espiritualidade, mas me
refiro ao cristianismo como religião oficial, igrejas com CNPJ. O CNPJ não é pessoal pois envolve dinheiro,
política e muita coisa por trás. Estou falando das igrejas que precisam de CNPJ
para viver, que não correm riscos, que não se expõem em nome na vida, que não
dão suas vidas pelo outro, que fazem tudo para preservar o seu nome e a sua
reputação.
Isso
precisa ser exposto e ser denunciado porque é ação criminosa. Quem fala de
jejum precisa ler Isaías 58, porque o verdadeiro jejum não tem nada a ver com
que estão fazendo por aí.
Então, se você não é capaz de defender o
sistema público de saúde para todos, isolamentos, uso de máscaras de proteção, lockdown,
a vida cima do dinheiro, a vida acima das instituições, acima dos interesses de
quem tem mais dinheiro, se você não é capaz de defender as coisas
indispensáveis para segurança e saúde do povo, não venha querer defender o
indefensável em nome de Deus.
Se você não é capaz nem tem coragem de desobedecer
a regras e até mesmo leis injustas em nome da preservação da vida, se você não
é capaz de confrontar pessoas que usam títulos e nomes de autoridades como se
tivessem autoridade, confrontar instituições/organizações e de colocar até
mesmo em risco sua posição dentro de alguma organização em favor das vidas, não
venha dizer que você segue Jesus de Nazaré.
O que as igrejas têm que fazer? Igreja
com CNPJ tem espaço físico, conta no banco, tem muitas condições. Vamos começar
por aí. O espaço físico que esses CNPJs possuem, devem ser transformados em UTIs
com recursos próprios – o dinheiro da Igreja! Esse dinheiro não é para custear
eventos em retiro de jovens, é para sustentar vidas, sustento mensal dessas
famílias que estão desempregadas, campanha por máscara, por vacina, por
isolamento, para manutenção das famílias em casa isoladas/protegidas. A igreja
tem dinheiro e essas contas bancárias então fazendo o quê, já que não estão
salvando vidas, equipando UTIs e ajudando a comprar máscaras?
Individualmente
a gente precisa começar a combater as falsas notícias, fake news,
começar a verificar dados, verificar notícias. Não compartilhar nada sem verificação,
divulgar o trabalho dos profissionais de saúde, divulgar os dados oficiais,
ajudar as pessoas que estão precisando, fazer “vaquinhas”.
Quer fazer alguma coisa
virtual? Então vamos juntar e trabalhar, pois tem gente passando muita
necessidade e fome. Vamos começar a policiar nosso próprio WhatsApp e redes
sociais, limpar das mentiras, limpar de babação de ovo de presidente. Ele é
um servidor público, ele não é autoridade sobre ninguém. Autoridade máxima não
é uma pessoa aqui no Brasil.
Nós precisamos ser aliados dos
profissionais de saúde, daqueles que estão na linha de frente. Nós precisamos
pesar o que vale mais.
Essas instituições (igrejas
institucionais) foram criadas na história com seus próprios interesses, suas
políticas e as suas manipulações dos textos sagrados com toda a carga que nós
temos de como interpretamos esses textos para benefício dos dogmas, das prisões
e correntes que nos impedem por medo de que é Deus que tá fazendo isso, quando
não é.
São interesses de organizações,
interesses da dogmática que serve a pessoas, instituições e nós precisamos vencer
esse medo e nos colocar ao lado da vida, ao lado dAquele que criou a vida. Porque
adoração não é um lugar geográfico, é muito mais que isso.
Eu me lembro da conversa de
Jesus com a mulher samaritana em João 4, quando Ele disse que não é aqui nem lá
que você tem que adorar. Não se preocupe onde você vai prestar seu culto, pois
prestar culto é transcender, é ir além de você mesmo, é sair do seu próprio
umbigo, é sair de você mesmo, é servir, se colocar no lugar da vida do outro, é
tratar o outro como superior a você, é se preocupar com a vida do outro e
protegê-lo acima da sua reputação, acima da sua instituição e acima dos seus
interesses.
Está na hora da gente rever a
nossa espiritualidade, pois culto não se presta em prédio, mas se presta na
vida do outro. É assim que a gente cultua a Deus ou a quem quer que você cultue.
É através do serviço ao próximo, da preservação da vida do outro. Isso é a
espiritualidade verdadeira.
Angela Natel – 17/03/2021.
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