quinta-feira, 18 de março de 2021

Estou enojada!

 


Preciso dizer que estou enojada com a igreja brasileira, seja de qual denominação ou linha teológica, por sua inércia, omissão e hipocrisia. Por sua exegese porca, nojenta, genocida e violenta.

A ponto de usarem textos supostamente voltados para a obediência à “autoridade” sem se dar o trabalho de fazer uma exegese decente, sem saber interpretar o texto e fazer uma boa hermenêutica com o nosso contexto atual.

É muito medo de ir contra o sistema e pouco medo de ser cúmplice do genocídio.

O Holocausto é um marco na história e na teologia também, porque ensina que uma teologia que não é capaz de se reestruturar a fim de dar conta da realidade só serve a si mesma e não serve pra nada.

Recomendo pesquisa sobre o tribunal de Nuremberg e mais especificamente as leituras de Hans Jonas e Dietrich Bonhoëffer.

O trato com as supostas "autoridades", a postura diante do massacre, da injustiça e do genocídio.

Uma teologia que só serve a si mesma não serve para nada!
Muitos estudam a teologia de Bonhoëffer desconectada de sua posição diante da vida e da história. Ledo engano!

Nenhuma teologia é construída fora de seu contexto!

É nojento o que a igreja está fazendo. - “Ah, Angela, mas não é toda igreja, não é todo crente!” - eu estou enojada. Não venham querer defender igreja aqui, não venham querer defender teologias aqui.

 Porque quem se diz estar contra o genocídio que está acontecendo no Brasil, o máximo que é feito é se manifestar em redes sociais, é o máximo! A ação pública não se dá virtualmente, o profetismo virtual vai para o lixo da história. Então, nem venha tentar discutir aqui em minha rede.

Esse lixo de proclamação hipócrita de jejum em favor do governo, que bem o Wellington Barbosa publicou e eu compartilhei no meu Instagram, é completamente incoerente com quem diz seguir a Jesus. 

Pessoas que se dizem cristãs, que se envolvem no partidarismo político e que não tem a capacidade de viver e conviver numa favela, usam as pautas da favela para se promover e promover seu partidarismo em época de eleição. Pastores que se julgam num alto nível de espiritualidade a fim de poder mandar “tomar naquele lugar”, é lixo! É lixo esse tipo de manifestação vindo de qualquer lugar na igreja brasileira.

O máximo que os líderes que se dizem cristãos do Brasil estão fazendo é consolar enlutado, porque nem enterrar os mortos podem mais por causa da situação atual. Mas as pessoas estão passando fome.

Qual é a atitude da igreja brasileira em relação as pessoas que estão passando fome? Qual é o posicionamento das igrejas brasileiras em relação à defesa do SUS? Qual é a resistência que a igreja brasileira está fazendo contra essas ações políticas? Que tipo de manifestação existe?

Mais uma linda nota de repúdio?  Vai colocar mais um pedido de impeachment para arquivar? É isso a igreja brasileira: omissão e inércia.

Então não venha querer usar a sua teologia completamente desatualizada, montada sobre uma história da igreja manipuladora e violenta, em cima de uma exegese porca, um lixo de exegese malfeita, vir justificar a hipocrisia e a inércia e essa irrelevância do cristianismo no Brasil.

Não venha querer defender igreja nem teologia aqui, porque é muito bonitinho você ficar só massageando o ego da sua igreja e da sua teologia.

– “Eu só posso ser contra autoridade se eu for perseguido por ser cristão.” - Olha o tipo de exegese que é feita sobre esse texto, dando um conceito pós-moderno de ser cristão, inserindo a sua mentalidade pós-moderna para dentro de um texto, num contexto completamente diferente, para leitores completamente distintos de cosmovisão.

Antes de vir fazer reflexões achando que sua única função é consolar os familiares dos mortos ou ficar fazendo assistência social dando pratinho de comida de mão em mão, sem fazer uma resistência eficaz, sem se expor, sem correr nenhum tipo de risco em nome da vida como Jesus correu, não venha me dizer que você segue esse Homem.

Seguir a Jesus é coisa bem diferente do que você tá fazendo. Você pode sim ter a sua fé e a sua espiritualidade, mas me refiro ao cristianismo como religião oficial, igrejas com CNPJ.  O CNPJ não é pessoal pois envolve dinheiro, política e muita coisa por trás. Estou falando das igrejas que precisam de CNPJ para viver, que não correm riscos, que não se expõem em nome na vida, que não dão suas vidas pelo outro, que fazem tudo para preservar o seu nome e a sua reputação.

 Isso precisa ser exposto e ser denunciado porque é ação criminosa. Quem fala de jejum precisa ler Isaías 58, porque o verdadeiro jejum não tem nada a ver com que estão fazendo por aí.

Então, se você não é capaz de defender o sistema público de saúde para todos, isolamentos, uso de máscaras de proteção, lockdown, a vida cima do dinheiro, a vida acima das instituições, acima dos interesses de quem tem mais dinheiro, se você não é capaz de defender as coisas indispensáveis para segurança e saúde do povo, não venha querer defender o indefensável em nome de Deus. 

Se você não é capaz nem tem coragem de desobedecer a regras e até mesmo leis injustas em nome da preservação da vida, se você não é capaz de confrontar pessoas que usam títulos e nomes de autoridades como se tivessem autoridade, confrontar instituições/organizações e de colocar até mesmo em risco sua posição dentro de alguma organização em favor das vidas, não venha dizer que você segue Jesus de Nazaré.

 O que as igrejas têm que fazer? Igreja com CNPJ tem espaço físico, conta no banco, tem muitas condições. Vamos começar por aí. O espaço físico que esses CNPJs possuem, devem ser transformados em UTIs com recursos próprios – o dinheiro da Igreja! Esse dinheiro não é para custear eventos em retiro de jovens, é para sustentar vidas, sustento mensal dessas famílias que estão desempregadas, campanha por máscara, por vacina, por isolamento, para manutenção das famílias em casa isoladas/protegidas. A igreja tem dinheiro e essas contas bancárias então fazendo o quê, já que não estão salvando vidas, equipando UTIs e ajudando a comprar máscaras?

Individualmente a gente precisa começar a combater as falsas notícias, fake news, começar a verificar dados, verificar notícias. Não compartilhar nada sem verificação, divulgar o trabalho dos profissionais de saúde, divulgar os dados oficiais, ajudar as pessoas que estão precisando, fazer “vaquinhas”.

Quer fazer alguma coisa virtual? Então vamos juntar e trabalhar, pois tem gente passando muita necessidade e fome. Vamos começar a policiar nosso próprio WhatsApp e redes sociais, limpar das mentiras, limpar de babação de ovo de presidente. Ele é um servidor público, ele não é autoridade sobre ninguém. Autoridade máxima não é uma pessoa aqui no Brasil.

Nós precisamos ser aliados dos profissionais de saúde, daqueles que estão na linha de frente. Nós precisamos pesar o que vale mais.

Essas instituições (igrejas institucionais) foram criadas na história com seus próprios interesses, suas políticas e as suas manipulações dos textos sagrados com toda a carga que nós temos de como interpretamos esses textos para benefício dos dogmas, das prisões e correntes que nos impedem por medo de que é Deus que tá fazendo isso, quando não é.

São interesses de organizações, interesses da dogmática que serve a pessoas, instituições e nós precisamos vencer esse medo e nos colocar ao lado da vida, ao lado dAquele que criou a vida. Porque adoração não é um lugar geográfico, é muito mais que isso.

Eu me lembro da conversa de Jesus com a mulher samaritana em João 4, quando Ele disse que não é aqui nem lá que você tem que adorar. Não se preocupe onde você vai prestar seu culto, pois prestar culto é transcender, é ir além de você mesmo, é sair do seu próprio umbigo, é sair de você mesmo, é servir, se colocar no lugar da vida do outro, é tratar o outro como superior a você, é se preocupar com a vida do outro e protegê-lo acima da sua reputação, acima da sua instituição e acima dos seus interesses.

Está na hora da gente rever a nossa espiritualidade, pois culto não se presta em prédio, mas se presta na vida do outro. É assim que a gente cultua a Deus ou a quem quer que você cultue. É através do serviço ao próximo, da preservação da vida do outro. Isso é a espiritualidade verdadeira.

Angela Natel – 17/03/2021.


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Estou enojada!

 


Preciso dizer que estou enojada com a igreja brasileira, seja de qual denominação ou linha teológica, por sua inércia, omissão e hipocrisia. Por sua exegese porca, nojenta, genocida e violenta.

A ponto de usarem textos supostamente voltados para a obediência à “autoridade” sem se dar o trabalho de fazer uma exegese decente, sem saber interpretar o texto e fazer uma boa hermenêutica com o nosso contexto atual.

É muito medo de ir contra o sistema e pouco medo de ser cúmplice do genocídio.

O Holocausto é um marco na história e na teologia também, porque ensina que uma teologia que não é capaz de se reestruturar a fim de dar conta da realidade só serve a si mesma e não serve pra nada.

Recomendo pesquisa sobre o tribunal de Nuremberg e mais especificamente as leituras de Hans Jonas e Dietrich Bonhoëffer.

O trato com as supostas "autoridades", a postura diante do massacre, da injustiça e do genocídio.

Uma teologia que só serve a si mesma não serve para nada!
Muitos estudam a teologia de Bonhoëffer desconectada de sua posição diante da vida e da história. Ledo engano!

Nenhuma teologia é construída fora de seu contexto!

É nojento o que a igreja está fazendo. - “Ah, Angela, mas não é toda igreja, não é todo crente!” - eu estou enojada. Não venham querer defender igreja aqui, não venham querer defender teologias aqui.

 Porque quem se diz estar contra o genocídio que está acontecendo no Brasil, o máximo que é feito é se manifestar em redes sociais, é o máximo! A ação pública não se dá virtualmente, o profetismo virtual vai para o lixo da história. Então, nem venha tentar discutir aqui em minha rede.

Esse lixo de proclamação hipócrita de jejum em favor do governo, que bem o Wellington Barbosa publicou e eu compartilhei no meu Instagram, é completamente incoerente com quem diz seguir a Jesus. 

Pessoas que se dizem cristãs, que se envolvem no partidarismo político e que não tem a capacidade de viver e conviver numa favela, usam as pautas da favela para se promover e promover seu partidarismo em época de eleição. Pastores que se julgam num alto nível de espiritualidade a fim de poder mandar “tomar naquele lugar”, é lixo! É lixo esse tipo de manifestação vindo de qualquer lugar na igreja brasileira.

O máximo que os líderes que se dizem cristãos do Brasil estão fazendo é consolar enlutado, porque nem enterrar os mortos podem mais por causa da situação atual. Mas as pessoas estão passando fome.

Qual é a atitude da igreja brasileira em relação as pessoas que estão passando fome? Qual é o posicionamento das igrejas brasileiras em relação à defesa do SUS? Qual é a resistência que a igreja brasileira está fazendo contra essas ações políticas? Que tipo de manifestação existe?

Mais uma linda nota de repúdio?  Vai colocar mais um pedido de impeachment para arquivar? É isso a igreja brasileira: omissão e inércia.

Então não venha querer usar a sua teologia completamente desatualizada, montada sobre uma história da igreja manipuladora e violenta, em cima de uma exegese porca, um lixo de exegese malfeita, vir justificar a hipocrisia e a inércia e essa irrelevância do cristianismo no Brasil.

Não venha querer defender igreja nem teologia aqui, porque é muito bonitinho você ficar só massageando o ego da sua igreja e da sua teologia.

– “Eu só posso ser contra autoridade se eu for perseguido por ser cristão.” - Olha o tipo de exegese que é feita sobre esse texto, dando um conceito pós-moderno de ser cristão, inserindo a sua mentalidade pós-moderna para dentro de um texto, num contexto completamente diferente, para leitores completamente distintos de cosmovisão.

Antes de vir fazer reflexões achando que sua única função é consolar os familiares dos mortos ou ficar fazendo assistência social dando pratinho de comida de mão em mão, sem fazer uma resistência eficaz, sem se expor, sem correr nenhum tipo de risco em nome da vida como Jesus correu, não venha me dizer que você segue esse Homem.

Seguir a Jesus é coisa bem diferente do que você tá fazendo. Você pode sim ter a sua fé e a sua espiritualidade, mas me refiro ao cristianismo como religião oficial, igrejas com CNPJ.  O CNPJ não é pessoal pois envolve dinheiro, política e muita coisa por trás. Estou falando das igrejas que precisam de CNPJ para viver, que não correm riscos, que não se expõem em nome na vida, que não dão suas vidas pelo outro, que fazem tudo para preservar o seu nome e a sua reputação.

 Isso precisa ser exposto e ser denunciado porque é ação criminosa. Quem fala de jejum precisa ler Isaías 58, porque o verdadeiro jejum não tem nada a ver com que estão fazendo por aí.

Então, se você não é capaz de defender o sistema público de saúde para todos, isolamentos, uso de máscaras de proteção, lockdown, a vida cima do dinheiro, a vida acima das instituições, acima dos interesses de quem tem mais dinheiro, se você não é capaz de defender as coisas indispensáveis para segurança e saúde do povo, não venha querer defender o indefensável em nome de Deus. 

Se você não é capaz nem tem coragem de desobedecer a regras e até mesmo leis injustas em nome da preservação da vida, se você não é capaz de confrontar pessoas que usam títulos e nomes de autoridades como se tivessem autoridade, confrontar instituições/organizações e de colocar até mesmo em risco sua posição dentro de alguma organização em favor das vidas, não venha dizer que você segue Jesus de Nazaré.

 O que as igrejas têm que fazer? Igreja com CNPJ tem espaço físico, conta no banco, tem muitas condições. Vamos começar por aí. O espaço físico que esses CNPJs possuem, devem ser transformados em UTIs com recursos próprios – o dinheiro da Igreja! Esse dinheiro não é para custear eventos em retiro de jovens, é para sustentar vidas, sustento mensal dessas famílias que estão desempregadas, campanha por máscara, por vacina, por isolamento, para manutenção das famílias em casa isoladas/protegidas. A igreja tem dinheiro e essas contas bancárias então fazendo o quê, já que não estão salvando vidas, equipando UTIs e ajudando a comprar máscaras?

Individualmente a gente precisa começar a combater as falsas notícias, fake news, começar a verificar dados, verificar notícias. Não compartilhar nada sem verificação, divulgar o trabalho dos profissionais de saúde, divulgar os dados oficiais, ajudar as pessoas que estão precisando, fazer “vaquinhas”.

Quer fazer alguma coisa virtual? Então vamos juntar e trabalhar, pois tem gente passando muita necessidade e fome. Vamos começar a policiar nosso próprio WhatsApp e redes sociais, limpar das mentiras, limpar de babação de ovo de presidente. Ele é um servidor público, ele não é autoridade sobre ninguém. Autoridade máxima não é uma pessoa aqui no Brasil.

Nós precisamos ser aliados dos profissionais de saúde, daqueles que estão na linha de frente. Nós precisamos pesar o que vale mais.

Essas instituições (igrejas institucionais) foram criadas na história com seus próprios interesses, suas políticas e as suas manipulações dos textos sagrados com toda a carga que nós temos de como interpretamos esses textos para benefício dos dogmas, das prisões e correntes que nos impedem por medo de que é Deus que tá fazendo isso, quando não é.

São interesses de organizações, interesses da dogmática que serve a pessoas, instituições e nós precisamos vencer esse medo e nos colocar ao lado da vida, ao lado dAquele que criou a vida. Porque adoração não é um lugar geográfico, é muito mais que isso.

Eu me lembro da conversa de Jesus com a mulher samaritana em João 4, quando Ele disse que não é aqui nem lá que você tem que adorar. Não se preocupe onde você vai prestar seu culto, pois prestar culto é transcender, é ir além de você mesmo, é sair do seu próprio umbigo, é sair de você mesmo, é servir, se colocar no lugar da vida do outro, é tratar o outro como superior a você, é se preocupar com a vida do outro e protegê-lo acima da sua reputação, acima da sua instituição e acima dos seus interesses.

Está na hora da gente rever a nossa espiritualidade, pois culto não se presta em prédio, mas se presta na vida do outro. É assim que a gente cultua a Deus ou a quem quer que você cultue. É através do serviço ao próximo, da preservação da vida do outro. Isso é a espiritualidade verdadeira.

Angela Natel – 17/03/2021.