sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Renunciar


Como manter a sanidade

E a esperança

Nas relações que não admitem o divergente

A discordância, a diferença?

 

E crescendo tendo de concordar

A admitir o inadmissível

De uma relação tóxica em que eu não deveria aparecer

Nem demonstrar singularidade.

 

Apenas repetindo discursos

Num jogo de imitação

Reprimindo vontades,

Omitindo gosto pessoal

Tendo de desmerecer-me

Sem poder ser.

 

E era ridicularizada pela roupa que escolhia vestir

Pela palavra que deixava escapar

Ou pelo assunto que fazia parte de meu hiperfoco

Mas que deveria silenciar.

Para não rirem de mim

Não me xingarem

Não me exporem ao ridículo publicamente

Eu deveria simplesmente admitir-me

Num mundo outro, que não o meu.

E a toxidade da relação se misturava à admiração

E ao amor, e à dependência emocional

Ao mesmo tempo em que minha imagem se via refletida

Como ameaça, com repulsa, desgosto no olhar de desprezo

Que comumente via.

 

E por inúmeras vezes me anulei

E deixei tudo, renunciei a tudo,

E silenciei para passar tardes, dias inteiros

À disposição

E me torturava ficar seguindo por entre as araras das lojas

De roupas que não me interessavam.

E nada disso valeu de nada.

Porque me torturei

Porque me anulei

E silenciei

Achando que valorizava o outro.

Mas quando decidi cortar

A relação abusiva

Me vi vilã, fui cruelmente taxada

E desprezada por meses

Ainda que nas redes, publicamente

Houvesse uma bela fachada.

Não passou de um teatro,

E quando hoje me recuso

Me ponho reclusa

Sou tida por ingrata

Que mão ama

Que não procura.

Porque decidi ser

E não mais me permitir silenciar.

A distância preserva quem sou

E não posso mais renunciar a isso.

 

Angela Natel – 01/01/21

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Renunciar


Como manter a sanidade

E a esperança

Nas relações que não admitem o divergente

A discordância, a diferença?

 

E crescendo tendo de concordar

A admitir o inadmissível

De uma relação tóxica em que eu não deveria aparecer

Nem demonstrar singularidade.

 

Apenas repetindo discursos

Num jogo de imitação

Reprimindo vontades,

Omitindo gosto pessoal

Tendo de desmerecer-me

Sem poder ser.

 

E era ridicularizada pela roupa que escolhia vestir

Pela palavra que deixava escapar

Ou pelo assunto que fazia parte de meu hiperfoco

Mas que deveria silenciar.

Para não rirem de mim

Não me xingarem

Não me exporem ao ridículo publicamente

Eu deveria simplesmente admitir-me

Num mundo outro, que não o meu.

E a toxidade da relação se misturava à admiração

E ao amor, e à dependência emocional

Ao mesmo tempo em que minha imagem se via refletida

Como ameaça, com repulsa, desgosto no olhar de desprezo

Que comumente via.

 

E por inúmeras vezes me anulei

E deixei tudo, renunciei a tudo,

E silenciei para passar tardes, dias inteiros

À disposição

E me torturava ficar seguindo por entre as araras das lojas

De roupas que não me interessavam.

E nada disso valeu de nada.

Porque me torturei

Porque me anulei

E silenciei

Achando que valorizava o outro.

Mas quando decidi cortar

A relação abusiva

Me vi vilã, fui cruelmente taxada

E desprezada por meses

Ainda que nas redes, publicamente

Houvesse uma bela fachada.

Não passou de um teatro,

E quando hoje me recuso

Me ponho reclusa

Sou tida por ingrata

Que mão ama

Que não procura.

Porque decidi ser

E não mais me permitir silenciar.

A distância preserva quem sou

E não posso mais renunciar a isso.

 

Angela Natel – 01/01/21