Como manter a sanidade
E a esperança
Nas relações que não admitem o divergente
A discordância, a diferença?
E crescendo tendo de concordar
A admitir o inadmissível
De uma relação tóxica em que eu não deveria aparecer
Nem demonstrar singularidade.
Apenas repetindo discursos
Num jogo de imitação
Reprimindo vontades,
Omitindo gosto pessoal
Tendo de desmerecer-me
Sem poder ser.
E era ridicularizada pela roupa que escolhia vestir
Pela palavra que deixava escapar
Ou pelo assunto que fazia parte de meu hiperfoco
Mas que deveria silenciar.
Para não rirem de mim
Não me xingarem
Não me exporem ao ridículo publicamente
Eu deveria simplesmente admitir-me
Num mundo outro, que não o meu.
E a toxidade da relação se misturava à admiração
E ao amor, e à dependência emocional
Ao mesmo tempo em que minha imagem se via refletida
Como ameaça, com repulsa, desgosto no olhar de desprezo
Que comumente via.
E por inúmeras vezes me anulei
E deixei tudo, renunciei a tudo,
E silenciei para passar tardes, dias inteiros
À disposição
E me torturava ficar seguindo por entre as araras das lojas
De roupas que não me interessavam.
E nada disso valeu de nada.
Porque me torturei
Porque me anulei
E silenciei
Achando que valorizava o outro.
Mas quando decidi cortar
A relação abusiva
Me vi vilã, fui cruelmente taxada
E desprezada por meses
Ainda que nas redes, publicamente
Houvesse uma bela fachada.
Não passou de um teatro,
E quando hoje me recuso
Me ponho reclusa
Sou tida por ingrata
Que mão ama
Que não procura.
Porque decidi ser
E não mais me permitir silenciar.
A distância preserva quem sou
E não posso mais renunciar a isso.
Angela Natel – 01/01/21
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