Demorei para me perceber
E obter um diagnóstico
Não para me definir
Mas para me compreender.
Já enfrentei inúmeras dificuldades
Condenação e cancelamento
Fui apagada da linha do tempo
De quem sempre disse que incondicionalmente me amava.
Mas então fui me analisando
E vendo em minha história a trava
A paralisação, o medo, a impossibilidade de encarar
E falar o que sinto, o que penso.
Foram cadernos e mais cadernos
Com as minhas orações
- que nunca consegui explicar, por que me expressava melhor
por escrito, e na fala não demonstrava essas emoções.
Pessoas que me acusam de dissimulação
Falsidade, hipocrisia, encenação,
E quando comunico a dificuldade
ainda vivem em negação.
É preferível para muitos
Ter o outro como o diabo
Canalizando sobre ele os problemas
E fazendo dele nosso inimigo.
Assim queimamos em nossa fogueira inquisitória
Todo o que nos contraria
Sem entender contexto, sem conhecer a fundo a história
Sem notar que em algum lugar há uma avaria.
Decido me expressar
Mas pessoalmente não consigo.
Cada vídeo que gravo é um parto,
Cada live ou entrevista que concedo
Sou assombrada por fantasmas do pânico,
Do choque, da vergonha e do medo.
Mas é claro que me tratam
Apenas como produtora de conteúdo,
“Por que não grava isso”, “não fala aquilo”,
“Não contribui”.
E quando reclamo da pressão, sou exagerada.
Mas por escrito, sem pressão, sem cobranças
A dor me sai do corpo,
E sou derramada nas palavras
Como pólvora saindo pelo cano
De uma arma apontada.
Sim, por escrito me comunico, me revelo,
Na esperança de ser compreendida.
Nas palavras que assumem a forma de meu ser
Em movimento, em sentimento.
Somente assim consigo me desnudar
E tentar comunicar o quanto sinto,
O quanto tenho medo.
Porque não importa o conhecimento
que é construído dentro de mim
se não puder derramá-lo através de provocações.
Aviso meus seguidores que não quero discutir
Porque não é por isso que escrevo, posto ou gravo.
Quero incentivar a reflexão, mas não espero mais ser
compreendida.
Já fui julgada, condenada, já fecharam sobre mim a tampa do
caixão.
Já sabem tudo a meu respeito, me descrevem e tratam comigo
como se me conhecessem melhor do que eu mesma me conheço.
E fecharam a definição do dicionário que me refere.
Sou referência? Não! Apenas referente.
Sou motivo de condenação e alerta:
“Não chegue muito perto.”
“Deixa chorar”, “ela é estranha”,
“Não sabe, não quer comunicar”,
“Mentiu para mim todo esse tempo”.
Sim, a vida me mentiu.
E por anos me enxerguei como me enxergam.
E apesar dos risos, de ser considerada exemplo,
Me via como vilã, sabotando-me constantemente.
E me via com teus olhos,
teu sorriso sarcástico a me condenar.
E a dor que hoje sinto, pela distância,
Por ter sido apagada da vida que sempre amei, só me traz
pesar.
E continuo estudando, porque não consigo viver sem isso.
É meu alimento, e tento produzir, deixar um legado,
Porque morrerei sozinha, e ninguém pode mudar isso.
Ainda sou analisada
Por quem nunca caminhou ao meu lado:
“Você não pode ser assim”,
“Isso não é verdade”,
“Quem é você para dizer isso?”
E as lágrimas correm,
E meus dedos se retorcem
Arrancando a pele para não arrancar a vida,
Por não querer mais provar a si mesma para os outros.
Me toco para me sentir viva,
E grito chorando para aprender a viver
Porque sinto que ainda não o sei.
Clamo incontáveis vezes:
“Jesus, me ensina a viver!”
Desde que me conheço por gente.
E amo cada aluno sedento de saber
E me martirizo por estar cansada demais para responder
Todas as dúvidas que me enviam.
E me sinto esgotada, com prazos a vencer,
Sem querer deixar ninguém no vazio do falar.
Sim, esse tiroteio tem nome:
Angela.
Sou eu em forma de palavras,
Derramando o desespero
E a dor de não saber mais o que falar
Nem como falar
Porque pessoalmente, são máscaras
Para que vida eu possa suportar.
Angela Natel - 14/04/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário