terça-feira, 3 de março de 2020

Quando ninguém (que) serve, serve mais



"Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles.
Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva;
e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo;
tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." (Mateus 20.25-28)
A ambiguidade deste título é proposital. Ele aborda três casos preocupantes.
O primeiro caso é o daqueles que se negam a servir, e o daqueles que reconhecem nos que não servem pessoas verdadeiramente poderosas e privilegiadas, e servem esses privilegiados com a maior honra e dignidade. Eles passam a servir as causas laterais ao evangelho, promovidas por esses 'senhores' que acham que ganharam o direito de não servir.
O segundo caso é quando na 'dóxa' [opinião] dos doutrinados, ninguém presta se tem formação, ou experiência, ou bons serviços. A formação é descartada, a experiência é relativizada e os bons serviços são atribuídos a outros. Então, quem passa a dominar a cena são os que se afirmam pela força ou pelo carisma. Não é por acaso que os "intelectuais" populares de hoje xingam, gritam, mentem e são radicais, demonstrando desprezo pelas pessoas que fazem a eles oposição.
O terceiro caso é dos que servem, mas fazem isso com limites. Esses ficam no "menos", esquecem que todo bem precisa ser socializado, e não escondido, estocado. Esses são aqueles que só fazem o bem se receberem retribuição e/ou vantagens, vivendo em um eterno "toma-lá dá-cá".
Quando pastores formados, professores formados, médicos formados, são substituídos por memes, teorias da conspiração e vídeos do YouTube, temos um sinal inconteste de que chegamos na confluência dos três casos acima. Hoje, opera vigorosamente a autofagia que consome o amor, a misericórdia e o bom senso.
O Brasil não está apenas em crise econômica. A crise é autofágica. Os seus doutores são desqualificados por generalizações absurdamente erradas na internet. A crise é (in)formativa, provocada por uma doutrinação que leva os comentaristas formados pela UFF (Universidade Federal do Facebook) a se considerarem maiores que os dados. Não adianta fornecer os dados, porque essas pessoas desqualificarão de alguma forma inapta qualquer argumento que não corresponda às suas crenças. Eles são como asnos vestidos com fraques, empacados na sala de jantar: os muares não deixam ninguém chegar à mesa - eles dão coices e azurram se alguém se aproxima. Mas eles, caso comam algo, deixarão após si uma grande bagunça, porque não sabem sentar à mesa, não sabem usar os talheres ou esperar as etapas do serviço. Ao fim, a mesa ficará desolada, e alguém, que não seja desse grupo inapto de asnos, terá que arrumar tudo (e, provavelmente, terá que desempacar os asnos).
A geração de hoje considera os pastores e teólogos em formados frios e ignorantes na experiência religiosa, espiritual. Para muitos, ser profundo conhecedor de algo, ser inteligente e honesto intelectualmente virou um perigo. Virou demérito. Virou pecado. Mas o engraçado é que eles apoiam quem conhece, desde que dê fundamentos para as suas crenças prévias. Caso o que seja dito seja diferente das expectativas, ainda que sejam palavras de Jesus, será refutado. Nesta semana, fui à igreja, e uma pessoa se levantou para corrigir uma professora que falou uma coisa certa com uma informação errada. Eu recitei o texto hebraico, consertei a falsa correção e disse que precisamos aprofundar a leitura e no mínimo ler outras traduções da Bíblia para ensinarmos certo para as pessoas. A pessoa, em vez de agradecer, disse que eu estava dando uma opinião a partir de autores que eu conheço, e que era apenas uma opinião entre muitas, e que eu estava indo contra o que ele chamou de "verdade espiritual das Escrituras". Verdade essa que não tem prova no texto: ele, e apenas ele, a detém, e acha que a detendo, pode humilhar quem quiser. Eis nosso tempo... Eis nosso tempo...
Os idosos não passam incólumes às agressões: eles são chamados de gagas, caso batam de frente com o establishment religioso. Os jovens também não servem: eles são chamados de inexperientes. As mulheres não servem, caso queiram afirmar, proteger e pleitear os seus direitos: elas são facilmente chamadas de histéricas feminazis. Os homens, caso não tirem fotos com armas, são chamados de fracos e inaptos para defenderem a sua família (coisa bem típica da IDADE DO BRONZE).
Então, mesmo que alguém queira servir, caso o faça fora da ditadura da violência evangélica, será enquadrado em algum aspecto do demérito. Passaram a ser autorizadas a violência, a grosseria, a falta de educação e decoro - é o empoderamento evangélico, em que a pessoa troca a piedade e humildade pela agressividade, e é louvada por isso. Quem tem coragem de virar mal vira profeta, mestre, está apto para ser político, pois serve de braço da vingança de Deus para moralizar as coisas. Eu continuo achando que os violentos, que são grosseiros e relapsos, são apenas incompetentes que tentam se proteger atrás da violência, já que não se garantem nas ideias.
Caso decidamos aceitar as ideias dos violentos, não precisamos pensar, ou estudar. Só precisamos que ele seja capaz de narrar seus intentos e ideias de forma agressiva, e os amantes da violência estarão todos se alinhando ao violento.
Foi Jesus que mostrou como identificar um homem ou mulher que verdadeiramente age no seu nome, que governa no padrão do Reino de Deus. Pode ter certeza que tal pessoa nunca dirá que vai funicar a outra, não coloca ninguém e/ou suas obras em um "index prohibitorum", nem fica chamando as pessoas de vagabundas enquanto promove congressos de prosperidade e empreendedorismo - mesmo indo à bancarrota por empregar dezenas de incompetentes em empresas que se misturaram ao seu ministério de forma prostituída. Gente assim precisa de um séquito que o obedeça recebendo grana suficiente para prestar obediência cega por medo de perder a grana forte, a boquinha do dinheiro do povo. Assim, ele se garante em seu posto. Por outro lado, fora dessa religião adoecida, uma pessoa que entendeu Jesus não cria inimizade com ninguém por causa de suas opiniões, nem foge do diálogo porque será claramente refutado. O cristão de verdade não se parece com um neurótico destemperado, que faz absurdos sob a desculpa de que seu temperamento é assim ou assado: ele cumpre o conselho de Paulo: ele atua "disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade" (1 Timóteo 2.25).
O verdadeiro seguidor de Jesus não vira pregador itinerante pra viver de oferta que serve de cala-boca, eliminando a sua voz profética. Um verdadeiro pregador recebe o conselho de Paulo: "nada façais por partidarismo ou vanglória" (Filipenses 2.3). Ele atende à ordem paulina: "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (2 Timóteo 4.2). Ele sabe, em relação aos pregadores vendidos comedores de ofertas do povo, que eles estão às portas de um grande juízo, como diz Paulo, que seu "fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas" (Filipenses 3.19). Quem ganha dinheiro enquanto e para ignorarem adultérios, mentiras, porfias, maldades, injustiças, ganha dinheiro para a sua própria perdição.
Quem compreendeu Jesus não fica tentando esconder escândalos sexuais, financeiros e de relacionamento para manter o negócio "Igreja" funcionando, sob a desculpa de evitar "escândalos". Para tal pessoa, a Igreja não é ganha pão. Ela não é prédio, nem dinheiro, nem oportunidade de comer nas churrascarias, nem dormir nos hotéis, nos motéis, voar de avião e se orgulhar por estar dilapidando o dinheiro suado do povo trabalhador e crente. Os que fazem selfs, celebram a vida regalada às custas do povo crente, esqueceu que a Igreja é feita de pessoas que precisam ser amadas, cuidadas e instruídas. Se está gastando tempo celebrando o próprio sucesso, está perdendo a chance de servir a Deus, servindo ao seu povo.
Levar políticos para vender o povo e ganhar vantagens por causa dos muitos eleitores presentes no culto, fazer shows e cobrar ingressos para encher o próprio bolso de grana, promover eventos que gerem aglomeração e deem impacto e ofertas gordas, tudo isso é o contrário do que Jesus ensinou. Lembremos que quando as multidões se reuniam, Jesus as ensinava, pregava e dava de comer (Marcos 6.31-44). Disso, sobrou nos cultos-show praticamente NADA: a pessoa que vai envenenar sua alma em um ajuntamento profano desses não recebe instrução, o evangelho da salvação não é pregado e a pessoa é estimulada a deixar até o dinheiro da passagem no gazofilácio. O deus adorado é MAMON, e ele pode até levar para a suíte presidencial ou para a cobertura de um lindo apartamento, mas não leva para o céu.
Quem compreendeu Jesus não cai na arapuca de se comprometer com políticos que vão se mostrar corruptos. Não faz campanha para ninguém, muito menos para quem faz o contrário do que Jesus disse em Mateus 10.15-18. A simbiose IGREJA-POLÍTICA não é jesuânica: ela é própria de quando a Igreja se prostituiu, adotando o poder secular, inicialmente Romano, e aproveitando da grana do império para construir templos suntuosos, casas episcopais maravilhosas, para promover 'expansão' missionária na base da espada (e, assim, mais grana). Ora: evangélicos que sempre denunciaram os católicos porque eles se desviaram no tempo de Constantino, agora viraram uma peça fundamental no tabuleiro da política brasileira, pois se desviaram. As palavras de Jesus ecoam: ENTRE VÓS NÃO SERÁ ASSIM....A desculpa dos desviados de se meterem em política porque estão usando os seus direitos de cidadania é MENTIRA: quando cristãos se organizam em torno de manifestações políticas, campanhas, influência nos poderes seculares, ELA SE PERDE, embriagada do poder secular, e vira um ESCÂNDALO ao mundo. As marchas para Jesus se transformam em marchas para humilhar Jesus.
Hoje, em particular, para exemplificar, uma senhora de idade, cristã, lá do estado do Rio usou um monte de palavras de baixo calão para se referir a mim, porque não suportou a sã doutrina. O que faz uma senhora de idade, avó, provavelmente bisavó, vir numa rede social xingar de nomes impronunciáveis uma pessoa? Eu respondo: os pastores proxenetas, que prostituíram o povo enchendo a sua cabeça de ideias políticas podres, que estão enchendo os bolsos deles. Então, quando eles ouvem a verdade, eles emulam esses pastores que transformaram as igrejas em lupanares espirituais. Eles se comportam como ímpios.
Quem conhece o que Jesus propôs não negligencia a verdade porque ela desmascara a ignorância. Quem ataca a verdade está contra o "caminho, verdade e vida".
Enfim, quem conhece Jesus não é de esquerda, porque o Reino não é de esquerda. Nem é de direita, porque o Reino não é de direita. Ele é do Reino, e coloca no centro (não no centrão) o trono de Deus, de onde a vontade divina governará a sua vontade humana.
Por isso, quando a Bíblia é relativizada, quando os cristãos esquecem seus compromissos com Jesus e com a verdade, quando vendem o evangelho precioso, trocando por uma graça barata e POLÍTICA, ninguém que fala sensatamente serve mais. E quando ninguém serve mais, a gente está em maus lençóis, porque bloqueamos a multiforme graça de Deus, sucumbindo à tentação de querer mais o senhorio do que o serviço.
Por isso, por essas razões, eu digo: precisamos de conversão da Igreja Evangélica Brasileira. E as três mudanças que precisamos fazer são essas: parar de atender aos que optaram por não servir; parar de desprezar aqueles que se esforçam para nos servir, seja se dedicando na formação, seja por causa da experiência, seja pelo contínuo treinamento; e precisamos parar de heroizar os que 'servem' com limites, fazendo exigências e cobranças.
Os cristãos brasileiros precisam parar de fazer vergonha. Parar de injustiçar os que estudaram economia, ciências políticas, estatística, sociologia e história, pessoas com acesso aos dados, que são interpeladas por cristãos ignorantes, que só sabem repetir como papagaios: "doutrinadores de esquerda". Nem se dão ao trabalho de LER os DADOS, as FONTES, os DOCUMENTOS.
Ou de ler a Bíblia, que já iria resolver 100% dessa vergonha profunda....
Os cristãos brasileiros precisam parar de seguir líderes violentos, iracundos, que não se dominam, que usam falácias e sofismas para justificar um papel que a igreja assumiu no Brasil, e que está errado: massa de manobra, gado - não de Jesus, mas do político que esses pastores indicam. Seja Lula, seja Ciro, seja Bolsonaro, seja quem for.
Em relação aos Batistas, eles precisam saber que quando um presidente tenta interferir nas eleições dizendo que um dos concorrentes era a INIQUIDADE, ele quebra um princípio batista caro: a separação entre a igreja e o Estado. Desde que isso aconteceu, alguns pastores batistas têm transgredido este princípio, sob a desculpa de serem profetas. O povo sensato do Brasil está assistindo perplexo alguns batistas denunciarem o político A, e ao mesmo tempo silenciarem sobre as suspeitas e crimes do político B, e permitirem seus pastores fazerem campanhas políticas e constrangerem o povo nas igrejas, em grave inconformidade com a história dos batistas e a Declaração Doutrinária das Igrejas Batistas. A Igreja Batista corre o risco de ver se quebrar constante e veementemente um princípio que é basilar de sua identidade, e o resultado disso é que alguns púlpitos viraram lugar de doutrinação política, e irmãos e irmãs, cristãos legítimos, estão sendo discriminados porque não adotaram a posição política da maioria da membresia. Ver isso acontecer em igrejas neopentecostais descomprometidas com valores básicos da ética cristã já era esperado. Mas os batistas? A coisa é grave!
Mais graves ainda são as desculpas: diante das graves denúncias contra alguns políticos, há líderes batistas que dizem: "ah, devemos obedecer às autoridades." Mas se as autoridades são do partido oposto ao gosto de alguns líderes batistas, eles falam que estão se levantando como profetas contra a iniquidade. Lembremos das palavras do apóstolo Paulo e paremos com isso: "Nada façais por partidarismo ou vanglória" (Filipenses 2.3). Batistas: voltemos a ser isso: BATISTAS.
Eis o cristianismo de fato: a religião dos que seguem, com afinco, o manual de serviço cristão, as bem-aventuranças, abrindo mão dessa violência e espírito bélico que tomou a mente, coração e mãos de muitos:
"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus."
(Mateus 5.3-10)
Estão aí, nas bem-aventuranças, as diretrizes. Siga, ou então você, meu querido amigo, não é cristão. Simples assim.
Brian Kibuuka

Nenhum comentário:

Quando ninguém (que) serve, serve mais



"Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles.
Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva;
e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo;
tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." (Mateus 20.25-28)
A ambiguidade deste título é proposital. Ele aborda três casos preocupantes.
O primeiro caso é o daqueles que se negam a servir, e o daqueles que reconhecem nos que não servem pessoas verdadeiramente poderosas e privilegiadas, e servem esses privilegiados com a maior honra e dignidade. Eles passam a servir as causas laterais ao evangelho, promovidas por esses 'senhores' que acham que ganharam o direito de não servir.
O segundo caso é quando na 'dóxa' [opinião] dos doutrinados, ninguém presta se tem formação, ou experiência, ou bons serviços. A formação é descartada, a experiência é relativizada e os bons serviços são atribuídos a outros. Então, quem passa a dominar a cena são os que se afirmam pela força ou pelo carisma. Não é por acaso que os "intelectuais" populares de hoje xingam, gritam, mentem e são radicais, demonstrando desprezo pelas pessoas que fazem a eles oposição.
O terceiro caso é dos que servem, mas fazem isso com limites. Esses ficam no "menos", esquecem que todo bem precisa ser socializado, e não escondido, estocado. Esses são aqueles que só fazem o bem se receberem retribuição e/ou vantagens, vivendo em um eterno "toma-lá dá-cá".
Quando pastores formados, professores formados, médicos formados, são substituídos por memes, teorias da conspiração e vídeos do YouTube, temos um sinal inconteste de que chegamos na confluência dos três casos acima. Hoje, opera vigorosamente a autofagia que consome o amor, a misericórdia e o bom senso.
O Brasil não está apenas em crise econômica. A crise é autofágica. Os seus doutores são desqualificados por generalizações absurdamente erradas na internet. A crise é (in)formativa, provocada por uma doutrinação que leva os comentaristas formados pela UFF (Universidade Federal do Facebook) a se considerarem maiores que os dados. Não adianta fornecer os dados, porque essas pessoas desqualificarão de alguma forma inapta qualquer argumento que não corresponda às suas crenças. Eles são como asnos vestidos com fraques, empacados na sala de jantar: os muares não deixam ninguém chegar à mesa - eles dão coices e azurram se alguém se aproxima. Mas eles, caso comam algo, deixarão após si uma grande bagunça, porque não sabem sentar à mesa, não sabem usar os talheres ou esperar as etapas do serviço. Ao fim, a mesa ficará desolada, e alguém, que não seja desse grupo inapto de asnos, terá que arrumar tudo (e, provavelmente, terá que desempacar os asnos).
A geração de hoje considera os pastores e teólogos em formados frios e ignorantes na experiência religiosa, espiritual. Para muitos, ser profundo conhecedor de algo, ser inteligente e honesto intelectualmente virou um perigo. Virou demérito. Virou pecado. Mas o engraçado é que eles apoiam quem conhece, desde que dê fundamentos para as suas crenças prévias. Caso o que seja dito seja diferente das expectativas, ainda que sejam palavras de Jesus, será refutado. Nesta semana, fui à igreja, e uma pessoa se levantou para corrigir uma professora que falou uma coisa certa com uma informação errada. Eu recitei o texto hebraico, consertei a falsa correção e disse que precisamos aprofundar a leitura e no mínimo ler outras traduções da Bíblia para ensinarmos certo para as pessoas. A pessoa, em vez de agradecer, disse que eu estava dando uma opinião a partir de autores que eu conheço, e que era apenas uma opinião entre muitas, e que eu estava indo contra o que ele chamou de "verdade espiritual das Escrituras". Verdade essa que não tem prova no texto: ele, e apenas ele, a detém, e acha que a detendo, pode humilhar quem quiser. Eis nosso tempo... Eis nosso tempo...
Os idosos não passam incólumes às agressões: eles são chamados de gagas, caso batam de frente com o establishment religioso. Os jovens também não servem: eles são chamados de inexperientes. As mulheres não servem, caso queiram afirmar, proteger e pleitear os seus direitos: elas são facilmente chamadas de histéricas feminazis. Os homens, caso não tirem fotos com armas, são chamados de fracos e inaptos para defenderem a sua família (coisa bem típica da IDADE DO BRONZE).
Então, mesmo que alguém queira servir, caso o faça fora da ditadura da violência evangélica, será enquadrado em algum aspecto do demérito. Passaram a ser autorizadas a violência, a grosseria, a falta de educação e decoro - é o empoderamento evangélico, em que a pessoa troca a piedade e humildade pela agressividade, e é louvada por isso. Quem tem coragem de virar mal vira profeta, mestre, está apto para ser político, pois serve de braço da vingança de Deus para moralizar as coisas. Eu continuo achando que os violentos, que são grosseiros e relapsos, são apenas incompetentes que tentam se proteger atrás da violência, já que não se garantem nas ideias.
Caso decidamos aceitar as ideias dos violentos, não precisamos pensar, ou estudar. Só precisamos que ele seja capaz de narrar seus intentos e ideias de forma agressiva, e os amantes da violência estarão todos se alinhando ao violento.
Foi Jesus que mostrou como identificar um homem ou mulher que verdadeiramente age no seu nome, que governa no padrão do Reino de Deus. Pode ter certeza que tal pessoa nunca dirá que vai funicar a outra, não coloca ninguém e/ou suas obras em um "index prohibitorum", nem fica chamando as pessoas de vagabundas enquanto promove congressos de prosperidade e empreendedorismo - mesmo indo à bancarrota por empregar dezenas de incompetentes em empresas que se misturaram ao seu ministério de forma prostituída. Gente assim precisa de um séquito que o obedeça recebendo grana suficiente para prestar obediência cega por medo de perder a grana forte, a boquinha do dinheiro do povo. Assim, ele se garante em seu posto. Por outro lado, fora dessa religião adoecida, uma pessoa que entendeu Jesus não cria inimizade com ninguém por causa de suas opiniões, nem foge do diálogo porque será claramente refutado. O cristão de verdade não se parece com um neurótico destemperado, que faz absurdos sob a desculpa de que seu temperamento é assim ou assado: ele cumpre o conselho de Paulo: ele atua "disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade" (1 Timóteo 2.25).
O verdadeiro seguidor de Jesus não vira pregador itinerante pra viver de oferta que serve de cala-boca, eliminando a sua voz profética. Um verdadeiro pregador recebe o conselho de Paulo: "nada façais por partidarismo ou vanglória" (Filipenses 2.3). Ele atende à ordem paulina: "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (2 Timóteo 4.2). Ele sabe, em relação aos pregadores vendidos comedores de ofertas do povo, que eles estão às portas de um grande juízo, como diz Paulo, que seu "fim é a perdição; cujo deus é o ventre; e cuja glória assenta no que é vergonhoso; os quais só cuidam das coisas terrenas" (Filipenses 3.19). Quem ganha dinheiro enquanto e para ignorarem adultérios, mentiras, porfias, maldades, injustiças, ganha dinheiro para a sua própria perdição.
Quem compreendeu Jesus não fica tentando esconder escândalos sexuais, financeiros e de relacionamento para manter o negócio "Igreja" funcionando, sob a desculpa de evitar "escândalos". Para tal pessoa, a Igreja não é ganha pão. Ela não é prédio, nem dinheiro, nem oportunidade de comer nas churrascarias, nem dormir nos hotéis, nos motéis, voar de avião e se orgulhar por estar dilapidando o dinheiro suado do povo trabalhador e crente. Os que fazem selfs, celebram a vida regalada às custas do povo crente, esqueceu que a Igreja é feita de pessoas que precisam ser amadas, cuidadas e instruídas. Se está gastando tempo celebrando o próprio sucesso, está perdendo a chance de servir a Deus, servindo ao seu povo.
Levar políticos para vender o povo e ganhar vantagens por causa dos muitos eleitores presentes no culto, fazer shows e cobrar ingressos para encher o próprio bolso de grana, promover eventos que gerem aglomeração e deem impacto e ofertas gordas, tudo isso é o contrário do que Jesus ensinou. Lembremos que quando as multidões se reuniam, Jesus as ensinava, pregava e dava de comer (Marcos 6.31-44). Disso, sobrou nos cultos-show praticamente NADA: a pessoa que vai envenenar sua alma em um ajuntamento profano desses não recebe instrução, o evangelho da salvação não é pregado e a pessoa é estimulada a deixar até o dinheiro da passagem no gazofilácio. O deus adorado é MAMON, e ele pode até levar para a suíte presidencial ou para a cobertura de um lindo apartamento, mas não leva para o céu.
Quem compreendeu Jesus não cai na arapuca de se comprometer com políticos que vão se mostrar corruptos. Não faz campanha para ninguém, muito menos para quem faz o contrário do que Jesus disse em Mateus 10.15-18. A simbiose IGREJA-POLÍTICA não é jesuânica: ela é própria de quando a Igreja se prostituiu, adotando o poder secular, inicialmente Romano, e aproveitando da grana do império para construir templos suntuosos, casas episcopais maravilhosas, para promover 'expansão' missionária na base da espada (e, assim, mais grana). Ora: evangélicos que sempre denunciaram os católicos porque eles se desviaram no tempo de Constantino, agora viraram uma peça fundamental no tabuleiro da política brasileira, pois se desviaram. As palavras de Jesus ecoam: ENTRE VÓS NÃO SERÁ ASSIM....A desculpa dos desviados de se meterem em política porque estão usando os seus direitos de cidadania é MENTIRA: quando cristãos se organizam em torno de manifestações políticas, campanhas, influência nos poderes seculares, ELA SE PERDE, embriagada do poder secular, e vira um ESCÂNDALO ao mundo. As marchas para Jesus se transformam em marchas para humilhar Jesus.
Hoje, em particular, para exemplificar, uma senhora de idade, cristã, lá do estado do Rio usou um monte de palavras de baixo calão para se referir a mim, porque não suportou a sã doutrina. O que faz uma senhora de idade, avó, provavelmente bisavó, vir numa rede social xingar de nomes impronunciáveis uma pessoa? Eu respondo: os pastores proxenetas, que prostituíram o povo enchendo a sua cabeça de ideias políticas podres, que estão enchendo os bolsos deles. Então, quando eles ouvem a verdade, eles emulam esses pastores que transformaram as igrejas em lupanares espirituais. Eles se comportam como ímpios.
Quem conhece o que Jesus propôs não negligencia a verdade porque ela desmascara a ignorância. Quem ataca a verdade está contra o "caminho, verdade e vida".
Enfim, quem conhece Jesus não é de esquerda, porque o Reino não é de esquerda. Nem é de direita, porque o Reino não é de direita. Ele é do Reino, e coloca no centro (não no centrão) o trono de Deus, de onde a vontade divina governará a sua vontade humana.
Por isso, quando a Bíblia é relativizada, quando os cristãos esquecem seus compromissos com Jesus e com a verdade, quando vendem o evangelho precioso, trocando por uma graça barata e POLÍTICA, ninguém que fala sensatamente serve mais. E quando ninguém serve mais, a gente está em maus lençóis, porque bloqueamos a multiforme graça de Deus, sucumbindo à tentação de querer mais o senhorio do que o serviço.
Por isso, por essas razões, eu digo: precisamos de conversão da Igreja Evangélica Brasileira. E as três mudanças que precisamos fazer são essas: parar de atender aos que optaram por não servir; parar de desprezar aqueles que se esforçam para nos servir, seja se dedicando na formação, seja por causa da experiência, seja pelo contínuo treinamento; e precisamos parar de heroizar os que 'servem' com limites, fazendo exigências e cobranças.
Os cristãos brasileiros precisam parar de fazer vergonha. Parar de injustiçar os que estudaram economia, ciências políticas, estatística, sociologia e história, pessoas com acesso aos dados, que são interpeladas por cristãos ignorantes, que só sabem repetir como papagaios: "doutrinadores de esquerda". Nem se dão ao trabalho de LER os DADOS, as FONTES, os DOCUMENTOS.
Ou de ler a Bíblia, que já iria resolver 100% dessa vergonha profunda....
Os cristãos brasileiros precisam parar de seguir líderes violentos, iracundos, que não se dominam, que usam falácias e sofismas para justificar um papel que a igreja assumiu no Brasil, e que está errado: massa de manobra, gado - não de Jesus, mas do político que esses pastores indicam. Seja Lula, seja Ciro, seja Bolsonaro, seja quem for.
Em relação aos Batistas, eles precisam saber que quando um presidente tenta interferir nas eleições dizendo que um dos concorrentes era a INIQUIDADE, ele quebra um princípio batista caro: a separação entre a igreja e o Estado. Desde que isso aconteceu, alguns pastores batistas têm transgredido este princípio, sob a desculpa de serem profetas. O povo sensato do Brasil está assistindo perplexo alguns batistas denunciarem o político A, e ao mesmo tempo silenciarem sobre as suspeitas e crimes do político B, e permitirem seus pastores fazerem campanhas políticas e constrangerem o povo nas igrejas, em grave inconformidade com a história dos batistas e a Declaração Doutrinária das Igrejas Batistas. A Igreja Batista corre o risco de ver se quebrar constante e veementemente um princípio que é basilar de sua identidade, e o resultado disso é que alguns púlpitos viraram lugar de doutrinação política, e irmãos e irmãs, cristãos legítimos, estão sendo discriminados porque não adotaram a posição política da maioria da membresia. Ver isso acontecer em igrejas neopentecostais descomprometidas com valores básicos da ética cristã já era esperado. Mas os batistas? A coisa é grave!
Mais graves ainda são as desculpas: diante das graves denúncias contra alguns políticos, há líderes batistas que dizem: "ah, devemos obedecer às autoridades." Mas se as autoridades são do partido oposto ao gosto de alguns líderes batistas, eles falam que estão se levantando como profetas contra a iniquidade. Lembremos das palavras do apóstolo Paulo e paremos com isso: "Nada façais por partidarismo ou vanglória" (Filipenses 2.3). Batistas: voltemos a ser isso: BATISTAS.
Eis o cristianismo de fato: a religião dos que seguem, com afinco, o manual de serviço cristão, as bem-aventuranças, abrindo mão dessa violência e espírito bélico que tomou a mente, coração e mãos de muitos:
"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus."
(Mateus 5.3-10)
Estão aí, nas bem-aventuranças, as diretrizes. Siga, ou então você, meu querido amigo, não é cristão. Simples assim.
Brian Kibuuka