Introdução
Originalmente, o dia de Pentecostes era a Festa
das Primícias (Lv. 23.19-22), celebrada 7 semanas após a Páscoa no tempo da
colheita do trigo. No tempo do Judaísmo do 2º. templo foi considerado o dia em
que Moisés recebeu a lei no Monte Sinai e por isso atraía muitos peregrinos de
todo lugar. Atos 2 nos mostra que havia ali judeus que moravam em Jerusalém,
mas também judeus tementes a Deus de todas as partes do mundo – todo o Israel
estava lá.
PARALELO
1 – Antigo Testamento
1)
Deus
está interessado em todas as nações e não somente em um único
povo.
Gn. 1-11 – a origem de
toda a humanidade
Deus não é Deus somente
de um grupo de pessoas, mas é Deus de todos os povos.
CRIAÇÃO – CORRUPÇÃO –
DILÚVIO – NAÇÕES - Alternância entre Narrativas (todo) e Genealogias (zoom):
Caim e
Abel – genealogia
Noé/Dilúvio
– genealogia
Torre
de Babel – genealogia
- Consciência de grupos
de pessoas e sua importância
- tema teológico de
inclusividade e não de exclusividade
A história de Babel
trouxe um fim à esperança e às tentativas da humanidade de encontrar seus
próprios meios de bênção.
2)
Chamado
para testemunhar – a parte em prol do todo.
Gn. 12:1-3 – chamado de
Abraão (a graça se manifestou antes da lei e das obras).
O plano de salvação de
Deus é via eleição. Abraão é escolhido para que a bênção de Deus atinja as 70
nações espalhadas pela face da terra.
Deus quer abençoar
todos os povos através de um mediador. - Isaías 42:6; 49:6.
Abraão não é chamado para ‘evangelizar’ e
‘converter’ os povos pagãos, mas para que sua presença seja uma bênção para
eles. Abraão é chamado para ser bênção, em vez de uma atividade a ser exercida:
SER e não FAZER.
Abraão se torna o referencial para quem é
abençoado por Deus.
As narrativas dos patriarcas mostram com eles
se tornaram uma bênção para a sua época e potencialmente para todo o mundo.
Israel deveria ser missionário de Deus às
nações. Para ser bênção para as nações, Israel precisa somente ser fiel a Javé.
Abraão e Israel foram chamados por causa do
propósito missionário de Deus de se tornar uma bênção para todas as nações.
De acordo com o teólogo protestante alemão Horst
Seebass (1934-2015), o conceito de eleição de uma parte em prol do todo já está
implícito no termo bachar = escolher
(eleição) no hebraico (AT). Sempre que o termo aparece relacionado a pessoas,
trata-se da separação de um grupo de pessoas para servir o todo. Israel foi
escolhido entre as nações para servi-las.
3)
O
testemunho é este:
Modelo de missão no AT – as pessoas vêm para
Israel para conhecer o Deus verdadeiro.
A escolha de Abraão tinha um propósito mais
amplo de Deus: a salvação de todas as pessoas.
BÊNÇÃO – generosidade característica de Deus
que dá de forma abundante tudo de bom para suas criaturas e sua contínua
renovação da abundância da vida criada. Provisão para o florescimento humano.
Não se restringe a coisas, é também relacional. Ser abençoado não significa apenas
conhecer as dádivas de Deus, mas também o próprio Deus em suas ofertas
generosas.
A bênção se dá através
de um relacionamento com Deus. A bênção conecta a criação com a salvação.
À medida que as pessoas
agradecem a Deus pelas suas dádivas, Deus se torna conhecido como o bom Criador
que proporciona o desenvolvimento das pessoas.
PARALELO
2 – Novo Testamento
1b) Deus
está interessado em todas as nações e não somente em um único
povo.
O livro de Atos é uma narrativa da expansão
missionária que inicia com um pequeno grupo de discípulos em Jerusalém e se
expande através de limites étnicos, religiosos e geográficos significativos
para terminar com o evangelho sendo anunciado para judeus e gentios em Roma,
sem distinção.
Atos 2 nos mostra que
Deus está intervindo com seu plano de salvação.
2b) Chamados
para testemunhar – a parte em prol do todo.
At.1/Lc.24 – chamado dos
discípulos (a graça se manifestou antes da lei e das obras).
O plano de salvação de
Deus é via eleição. Deus quer abençoar todos os povos através de um mediador.
Os cristãos que são
ricamente abençoados por Deus agora se doam e doam o que possuem para ajudar as
pessoas ao seu redor. Não se trata de fazer algo para ter um retorno, mas de
abençoar as pessoas. A presença da Igreja poderia ser conhecida por sua
generosidade para com todas as pessoas.
Atos 1.8 precisa ser
lido no contexto de Lucas 24.46-49.
Os estágios do testemunho
dos discípulos devem ser vistos etnicamente e teologicamente, bem como
geograficamente. O 1º. estágio é Jerusalém onde Jesus completou a sua obra e
onde Israel deveria ser restaurado como o remanescente dos judeus que criam
nele como Messias. O 2º. estágio era Judéia-Samaria – os dois locais estão
interligados pelo mesmo artigo no grego – que se referem ao antigo reino de
Judá e Israel. Finalmente o testemunho apostólico vai até os confins da terra,
uma expressão chave que vem de Isaías 49.6 (citação dela em At 13.47) e mostra
que Deus quer que sua salvação alcance a todos os povos.
Não somos chamados para
convencer nem converter ninguém. Isso é obra do Espirito Santo.
Pentecostes é um evento central – sem a vinda
do Espírito Santo não haveria profecia, nem pregação, nem missão, nem conversão
e nenhum movimento do cristianismo por toda a terra.
Com a vinda do Espírito, os discípulos vão se
envolver na missão de Deus (como está implícito nas palavras de Jesus em
Lc.24:48; cf. At. 13:47), que está ministrando a toda a nação.
Para Lucas, os judeus presentes em Jerusalém no dia de
Pentecostes (At.2) são representantes das nações de onde vieram e dos dialetos
locais dessas nações.
A lista nas nações que temos em At.2.9-12 que amplia o v. 5
é similar à lista das nações da tradição judia das nações baseada em Gênesis 10
e que está presente parcialmente em Isaías 66.18,19, onde Javé promete reunir
todas as nações e línguas.
Temos em Atos 2.2-4 alusões a Babel, além das alusões a
Gênesis 10.
Pentecostes seria Babel ao contrário, ou seja, a presença
do Espírito agora unindo outra vez as nações com uma linguagem comum.
Pedro interpreta o evento da
vinda do Espírito Santo de acordo com Joel 2:28-32, onde Deus prometeu derramar
Seu Espírito sobre toda a carne (todo o Israel).
A expressão “toda a carne” que em Joel se
refere primariamente aos judeus recebe uma nova ênfase na pregação de Pedro
quando ele fala do perdão dos pecados e o dom do Espírito para “todos os que estão longe” (Atos 2.39)
(provavelmente se refere à promessa feita a Abraão, onde todas as nações serão
abençoadas através dele).
A narrativa de Lucas mostra que o Espírito é
recebido também em outras situações além do evento em Pentecostes: os
samaritanos (At 8.14-17); os gentios (10.44-48; 11.15-18); e os discípulos de
João Batista (19.1-7) - estágios cruciais da expansão missionária.
3b) O
testemunho é este:
A bênção se dá através
de um relacionamento com Deus. Somente pela graça é que as pessoas são
abençoadas.
O Libertador veio da
descendência de Abraão. Paulo interpreta a promessa a Abraão como se aplicando
a um único descendente dele, Jesus Cristo, como bênção para Israel e para todas
as nações. – Gálatas 3:6-9,16.
Em nome de Jesus se proclama “o arrependimento
para perdão de pecados a todas as nações” (Lc.24:47). Jesus é entronizado como
Senhor e Cristo (At 2.34,35). O perdão dos pecados está disponível a todos
através dele.
A mensagem missionária
proclamada pelos discípulos são “as boas
novas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo” (8.12; 28.23,31).
O livro de Atos mostra
que o Espírito Santo vem para a salvação das pessoas (2:38), para a adoração,
oração, separação e envio específico de pessoas (Atos 13) entre outras coisas.
Em Atos 2.14-39, no seu
sermão Pedro especifica o conteúdo do testemunho dos discípulos em Jerusalém.
Esse testemunho é sobre a morte e ressurreição de Jesus e o perdão dos pecados
de acordo com as Escrituras (cf. Lc 24.46,47).
Pedro caminha da
passagem de Joel mencionando as pessoas que clamam pelo nome do Senhor que
serão salvas (21), para enfatizar a crucificação de Jesus (22,23), depois a sua
ressurreição e exaltação como Messias (33-36). Depois da exaltação Jesus
derramou o seu Espírito. A salvação vem para todos os que clamam pelo nome do
Senhor (Joel 2.32; Atos 2.21) e incentiva a clamarem pelo nome do Senhor Jesus
se arrependendo e sendo batizado em seu nome para o perdão dos pecados (cf. Lc
24.47).
O testemunho de Pedro
foi dado para o povo de Deus. Mas fica evidente nesse texto que a vinda do
Espírito sobre um Israel renovado e purificado vai, em última análise, apontar
adiante para uma bênção universal como os profetas já tinham indicado (Is 42.6;
49.6).
O relato de Pentecostes
acaba em Atos 2.41, mas temos que ler a continuidade de 2.42-47.
Aqui temos a figura da
comunidade de Jerusalém – o remanescente de Israel, restaurado e que recebe
nova vida do Cristo exaltado através do Espírito Santo. Esse grupo de pessoas
se preocupa com o próximo (2.44,45); é caraterizado pela devoção ao ensino dos
apóstolos, a comunhão, o partir do pão e a oração (42). Essa comunidade se
torna o modelo que o Israel antigo deveria ter sido (Êx 19.5,6). Eles não
somente estão juntos com alegria, com o coração sincero adorando a Deus, mas
contam com a simpatia de todo povo, e diariamente o Senhor acrescenta outros
israelitas que estão sendo salvos. Essa comunidade restaurada é apresentada por
Lucas como um modelo dos propósitos de Deus para todo o mundo.
Angela Natel
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