sábado, 16 de março de 2019

Quantos mais?


Quantos já morreram
Sob o peso acusatório
Bruxaria, heresia, judaizante,
Quantos já pagaram com a vida
Por sua discordância?

E os corpos se multiplicam
Condenados em seus erros
E as feridas se multiplicam
Na alma dos párias.

E os que respeitam a lei civil
Não jogam às fogueiras,
Mas queimam reputações
Acusam publicamente
Envergonham, testam
Com perguntas capciosas.

São condenações certeiras
Aos que desafiam
 a escravização da consciência.

Minhas motivações e intenções
Do coração são contundentemente rotuladas
Definidas por quem não me conhece
E condenadas diante de alunos.

Sou chamada liberal por quem não sabe
O que é liberalismo.
Sou ouvida apenas quando acalento o ego
Dos que dizem me amar.

São corpos queimados nas fogueiras da sociedade
Reputações queimadas, marcadas, rotuladas,
Sem um pingo de misericórdia.
São vidas que pagaram o preço da liberdade
Na mira de armas letais.
Não há justificativa.
São armas
Feitas para ferir, para matar.
Armas.
É o fogo das acusações
Das justificativas
Para as modernas inquisições.

Pecados publicados
Dogmas e cabrestos
Tornando homens em máquinas,
Androides obedientes e mansos.

Vidas que pagaram
por nossa omissão política
Por nosso descaso
 e nossas desculpas esfarrapadas.

Crianças, muçulmanos, negros, pobres,
Violentos, hereges, desobedientes, bandidos,
Vidas que devem pagar
Para que nossos pecados nãos sejam descobertos
E nossa hipocrisia não seja revelada.

Armas na mão
Dedos em riste.
Que outro pague.
Que outro morra em nosso lugar.
Que eles morram
Para que vivamos
E sejamos os donos da verdade.

Quantas vidas ainda têm que pagar
Pelo preço de nossa imprudência
Em julgar as motivações dos corações
Às quais, de fato, não temos acesso?
Quantas reputações ainda vamos manchar
E queimar
Pela desonestidade de nossos argumentos?

Quanto veneno ainda vamos lançar
Por trás de um sorriso e um título de líder espiritual
Acobertando os abusos recorrentes?

Quantas vidas ainda vão pagar
Porque não assumimos nossa história de sangue,
Carne queimada presa nas estacas de nossas palavras?

Quanto de orgulho ainda sentiremos
Ao usar o nome de Deus para fazer declarações
De ódio, vingança e condenação?

Quantas vidas ainda irão pagar
Pela nossa desonestidade
Em falar de uma revelação que não passa
De fruto de nossa lógica deturpada?

Argumentos, argumentos,
Vidas ceifadas.
E o sangue continua em nossas mãos.

Angela Natel – 16/03/2019.

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Quantos mais?


Quantos já morreram
Sob o peso acusatório
Bruxaria, heresia, judaizante,
Quantos já pagaram com a vida
Por sua discordância?

E os corpos se multiplicam
Condenados em seus erros
E as feridas se multiplicam
Na alma dos párias.

E os que respeitam a lei civil
Não jogam às fogueiras,
Mas queimam reputações
Acusam publicamente
Envergonham, testam
Com perguntas capciosas.

São condenações certeiras
Aos que desafiam
 a escravização da consciência.

Minhas motivações e intenções
Do coração são contundentemente rotuladas
Definidas por quem não me conhece
E condenadas diante de alunos.

Sou chamada liberal por quem não sabe
O que é liberalismo.
Sou ouvida apenas quando acalento o ego
Dos que dizem me amar.

São corpos queimados nas fogueiras da sociedade
Reputações queimadas, marcadas, rotuladas,
Sem um pingo de misericórdia.
São vidas que pagaram o preço da liberdade
Na mira de armas letais.
Não há justificativa.
São armas
Feitas para ferir, para matar.
Armas.
É o fogo das acusações
Das justificativas
Para as modernas inquisições.

Pecados publicados
Dogmas e cabrestos
Tornando homens em máquinas,
Androides obedientes e mansos.

Vidas que pagaram
por nossa omissão política
Por nosso descaso
 e nossas desculpas esfarrapadas.

Crianças, muçulmanos, negros, pobres,
Violentos, hereges, desobedientes, bandidos,
Vidas que devem pagar
Para que nossos pecados nãos sejam descobertos
E nossa hipocrisia não seja revelada.

Armas na mão
Dedos em riste.
Que outro pague.
Que outro morra em nosso lugar.
Que eles morram
Para que vivamos
E sejamos os donos da verdade.

Quantas vidas ainda têm que pagar
Pelo preço de nossa imprudência
Em julgar as motivações dos corações
Às quais, de fato, não temos acesso?
Quantas reputações ainda vamos manchar
E queimar
Pela desonestidade de nossos argumentos?

Quanto veneno ainda vamos lançar
Por trás de um sorriso e um título de líder espiritual
Acobertando os abusos recorrentes?

Quantas vidas ainda vão pagar
Porque não assumimos nossa história de sangue,
Carne queimada presa nas estacas de nossas palavras?

Quanto de orgulho ainda sentiremos
Ao usar o nome de Deus para fazer declarações
De ódio, vingança e condenação?

Quantas vidas ainda irão pagar
Pela nossa desonestidade
Em falar de uma revelação que não passa
De fruto de nossa lógica deturpada?

Argumentos, argumentos,
Vidas ceifadas.
E o sangue continua em nossas mãos.

Angela Natel – 16/03/2019.