E, no mais, o que me resta nessa vida?
Uma ferida curada, uma máscara caída.
O chão roto de manchas de sangue
do dedo dilacerado em ansiedade.
Não me sobrou muito além do verniz na cara, brilhando em vaidade.
A pergunta que sobe n'alma, medo, desgosto, da infância o trauma.
A dor que a pressão me traz
e a tentativa de controlar minha vida arregaça.
O que me sobrou? Só um pouco.
O resto do lixo de minha emoção vacilante, inconstante.
De quando tudo é vivido à flor da pele.
Sangue, lágrimas, suor, excremento.
Tudo vivido, jogado na cara.
Depois disso, além disso, não me sobra nada. Sou negativada em meu interior.
Menos que nada: o não ser, reprovada.
Vacilando em respostas, tropeçando nas mesmas pedras.
Errando toda vez que ergo os olhos em busca de aprovação.
Uma história contada ao vento
que, no fim, dá em nada.
Mudança que houve com o tempo,
um sonhar acordada.
Para, então, descobrir que o tempo não existe, que a vida passa, e o que sobrou...
foi nada.
Angela Natel
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