Tantos apertos de um lado e do outro
Gritos alvoroçados
Muitos se espremem para ver o espetáculo
Ansiosos e hipnotizados.
Suor que escorre pelos rostos
Todo desconforto vale a pena
Não importa a fome que massacra o corpo
Contanto que eletrizante seja a cena.
Então os tambores soam, impetuosos
Arrepio que corre a pele toda
Tremores chacoalham os corpos
Sob o escaldante sol a trompa soa.
Entram eles, espetáculo público,
Todos os que consideramos a escória da humanidade:
Os falhos, inferiores, os que nos decepcionam de súbito
Os subordinados, os vis, os que traem lealdade.
Sim, o massacre vai começar
E as feras são, devidamente, soltas,
Exposição pública, flagelo, palavras ao ar,
E muitas formas de violência para serem servidas estão
prontas.
A laceração do outro excita
E traz satisfação
A posição de juiz é atraente e evita
Que sejamos o alvo da humilhação.
Assim esquecemos a fome
A injustiça e nossa própria responsabilidade.
Damos para cada demônio um nome
E tratamos tudo com leviandade.
Dessa forma, nos justificamos a nós mesmos
E endeusamos nosso comportamento
Jogamos todas as palavras torpes que temos
A fim de produzir um belo julgamento.
Ao ignorar que podemos estar errados
Celebramos um belo espetáculo
De carne, sangue, pele e vísceras no tablado
De nosso santo tabernáculo.
Angela Natel – 09/08/2017
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