Do amigo Flavio Antônio da Cruz
"Radical não é o pensamento intolerante, com pretensões absolutistas e excludentes. Antes, radical é o pensamento que busca a raiz das coisas, os fundamentos últimos, as essências subjacentes às aparências, um pensamento tão incoativo quanto a própria existência: obrigado a assumir-se como responsável pelo que engendra, ainda que se saiba incapaz de atingir essa meta. Pensamento radical é aquele que se reconhece lançado no abismo, condenado a criticar a si mesmo o tempo todo, tendo por certo e inequívoco apenas o caráter inatingível da verdade. O pensamento radical é adogmático, na medida em que não busca construir castelos sistemáticos. Antes, busca desvelar a areia movediça subjacente às construções epistêmicas. O pensamento radical almeja voltar às coisas mesmas, como queria Husserl, ao tempo em que vê a erudição como uma moldura dourada em pinturas de gosto duvidoso. O pensamento radical quer ser mais marxista que Marx, mais liberal que von Mises, mais lógico do que Gödel, mais ousado do que Einstein. Está fadado à frustração e à insatisfação, talvez pelo fato de imaginar que toda construção teórica densa carregaria o anátema do positivismo. O fato é que a contemporaneidade abomina tudo quanto é radical, ao tempo em que, contraditoriamente, o corteja à distância: quer o relativismo e o niilismo, decorrentes do reconhecimento da falsidade das grandes teorias. Mas, nosso tempo não almeja lançar-se à busca por novos mundos. Ao invés de raízes sólidas e profundas, as pessoas querem flores policromáticas, matizadas, fugidias... Somos o tempo do caleidoscópio - o que é bom -, mas, tanto por isso, o tempo das aparências, dos espetáculos, da mudança contínua da opinião, tempo dos paradoxos, tempo em que somos condenados - radicalmente condenados - a não termos raiz alguma."
fonte: https://www.facebook.com/flavioantonio.dacruz?fref=mentions
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