Hoje é um bom
dia para falar sobre certas coisas: Ontem à noite vi, pela TV, o pronunciamento
da Presidente Dilma a respeito do processo de impeachment em andamento. Ouço
falar que, pela manhã foi anunciado que o Parlamento Inglês, por voto, decidiu
bombardear a Síria. E o Natal está chegando...
Na moda do
boicote, estou definitivamente boicotando o Papai Noel - este senhor idoso que
rege sua vida segundo a meritocracia. Nunca ouviu falar de misericórdia, não? –
postei hoje em meu facebook.
Sob esta mesma
linha de pensamento, fica difícil ser coerente num mundo de injustiças. Uns,
para não serem punidos, atacam ferozmente outros a fim de desviar a atenção e
manipular o povo segundo o seu bel prazer: o sujo falando do mal lavado – e
isso se aplica, não somente aos políticos brasileiros, mas até mesmo ao povo
brasileiro que, em suas mazelas e pequenas corrupções do dia-a-dia, ainda se
ergue para exigir justiça e punição àqueles que eles mesmos elegeram para os
governar.
Em outra
instância, sob o lema da justiça, decide-se atacar um povo destituído de condições
de defesa, num emaranhado político/econômico/ideológico.
E num ângulo bem
mais próximo de nossa experiência diária, há aquelas situações em que nos
deparamos com uma busca desenfreada por fazer tudo certinho, medir palmo a
palmo os gastos e despesas, sem deixar nada de fora, no âmago por ser justo e
correto. E nesse meio tempo, atropelamos quem nos surja pelo caminho, cegos em
nossa integridade, a fim de não nos desviarmos das leis que impusemos a todos
os que nos cercam. São lágrimas que ignoramos, mãos estendidas que não cabem em
nossa justiça, um peso que devemos colocar sobre todos, sem ao menos perceber a
distinta condição de cada pessoa.
Não, neste mundo
cão não há espaço para a misericórdia. Não vivemos numa democracia, nem lutamos
por coisa alguma além de uma vil e cruel meritocracia.
Será
que seria o caso de começarmos por medirmos a nós mesmos se não vivemos
recompensando somente os fortes, os esforçados, aqueles que atendem às nossas
expectativas? Será que não seria o caso de olharmos o outro nos olhos antes de
batermos o martelo da justiça, determinando um peso igual a todos – que,
tragicamente virá a massacrar alguns?
Será
que não seria o caso de desmontarmos nossos sistemas de justiça, recompensa e
punição, pararmos de ‘dar nome aos bois’ e analisarmos a vida humana acima dos
sistemas políticos e econômicos?
É
claro que escrevo e falo segundo o filtro da própria corrupção que habita em
mim. Porém não posso me calar quando a ânsia por misericórdia e graça gritam em
cada alma humana nestes dias tão cruéis.
É
difícil ao ser humano aceitar a misericórdia, já que para isso é necessário se
desarmar, se despir de suas ideologias e justificações, trazer o outro que o
desafia no mesmo patamar para ouvi-lo, atender suas necessidades e promover a
reconciliação.
Ideias
como estas são por demais subversivas, já que não premiam o esforçado, o mais
forte, nem o mais justo. Isso ataca nossos brios e nos coloca a todos no mesmo
nível, sob a mesma condição. E mesmo em situações concretas, como o iminente
bombardeio inglês sobre a Síria, o processo de impeachment sobre nossa
presidente ou nossas ações e decisões no dia a dia, não é fácil delimitar onde
exercer justiça com misericórdia, e onde desconstruir para depois construir
novamente.
A
maior dificuldade em tudo isso é enxergar além dos rótulos, das ideologias, dos
sistemas políticos e econômicos que já estão encrustados em nossa pele, em
nosso sangue e em nossa história. O pensamento que é regido desde a infância
pela meritocracia dificilmente sairá ileso caso decida fugir das linhas que
limitam sua justiça própria.
Angela Natel
03/12/2015
angelanatel.wordpress.com
https://www.facebook.com/Angela-Natel-137128436426391/
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