Há tempos esse início de
discurso me incomoda. Algo acontece, a pessoa demonstra chateação, tristeza,
revolta. O outro, que de alguma forma causou tal reação, inicia: ‘Me perdoa
se...”
O
discurso pode se dar de diversas formas: ‘Me perdoa se eu te fiz algum mal’; ‘me
perdoa se você se magoou’; me perdoa se te causei tristeza’; ‘me perdoa se te
prejudiquei’; etc. Mas o começo é sempre igual.
O
que me incomoda em tais situações é que o pedido vem com uma condicional: ‘se...’,
e isso pode apresentar algumas dificuldades. Primeiro, existe arrependimento de
quem causou a ação quando o pedido está condicionado ao sentimento de quem
sofreu a ação?
Segundo, o pedido de perdão
é somente para que o outro ‘se sinta melhor’? Nesse caso, poderia ser somente
para botar panos quentes na situação, deixar para lá, sem necessidade de
comprometimento para que a situação não se repita. Só refletindo...
Outro fator inquietante
seria que se a pessoa não percebe ou não concorda que errou, não parece
hipocrisia ou até sarcasmo formalizar um pedido de perdão sob este formato,
parecendo que a razão do pedido é de inteira responsabilidade de quem sofreu a
ação?
Defendo, com esta reflexão,
que este tipo de discurso é totalmente desnecessário. Uma vez percebida a
atitude errada, e com a disposição de mudar, pede-se perdão pelo que aconteceu.
Caso não se concorde que tenha errado, é bom questionar se a maneira como foi
colocada a situação não seria a causa do desentendimento. Nem sempre o que digo
está errado, porém como digo pode ofender. Nesse caso, posso concordar que errei
na maneira de me expressar, e por isso me desculpar.
Agora, pedir perdão ‘se’ fiz
algo errado, ou o famoso ‘desculpa qualquer coisa’, soa vago, desinteressado e
genuinamente despreocupado com o outro, um discurso ‘prá fazer média’, prá
aliviar consciência, egoísta.
De qualquer modo, lanço esta
reflexão. E ‘se’ ofendi alguém com isso, ‘desculpa qualquer coisa’.
Angela Natel – 01/06/2014.
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