Longe de casa por uma semana,
encontro-me no ponto onde minha vida tomou novo rumo há 16 anos atrás. Tanta
coisa aconteceu desde então, e posso agora perceber o porquê de alguns
desencontros, frustrações. Em meio a isso tudo ouço este parecer, que me faz
pensar a respeito de minha constante e insaciável busca: ‘Não cabemos em lugar
algum’.
Será que minha vida se resume a
isto? Um olhar obcecado pelo inalcançável, sem ao menos aproveitar o que me cerca,
sem descanso, sem contentamento? Parece
com a síndrome do ‘Quero estar lá’, sem nunca, entretanto, conseguir chegar.
Sou encorajada por forças interiores que desconheço na perseguição por um alvo
invisível sempre além de onde minha vista consegue alcançar. Constantemente ‘eu
quero estar lá’.
Quando estava em Curitiba, queria ir
a outros lugares, contactar outras culturas, outras pessoas, aprender e
influenciar em outras cidades. Quando me mudei para Brasília, pensei ter
alcançado meu destino, tentei estabelecer-me, sujeitar-me, até que o lugar
pareceu pequeno demais, os limites por demais apertados, as pessoas, com seus
pequenos mundos controlados por seu próprio centro gravitacional me sufocavam,
então quis retornar, e estudar.
Quando, então terminei o que
planejava em meus estudos, respondi prontamente ao chamado dos que me
convidavam para um trabalho em Moçambique, ainda que por um ano. Lá permaneci,
cumprindo o combinado. Mas quando os prazos estavam prestes a vencer me vi
ansiosa pelo retorno ao lar, onde sempre senti certa segurança.
Mais um tempo de estudo e a coceira
do deslocamento tirou-me do lugar para um ano de serviço em Brasília, de onde
parti novamente a Moçambique, desta vez com vistas a fixar residência. A
intenção foi sincera. Tirei carteira de motorista, casei-me, estabeleci
trabalho e uma rotina. Foram tempos difíceis, de muita adaptação, e nunca
pensei que ainda tinha muito chão pela frente.
Hoje não escrevo com clareza, com o
fim de agradar leitores, mas estou disposta a improvisar. Um casamento
fracassado, um ministério e trabalho que me escapou por entre os dedos e um
novo rumo de vida trouxeram-me de volta ao Brasil, a Curitiba, e por dois anos
consegui viver sob aluguel sozinha, longe da casa de meus pais.
Retorno ao lar significou novo
começo, com mais estudo, ainda que vozes inquietantes não tenham se calado dentro
de mim. Nessa semana que estou em Brasília, ouvindo convites para retornar, sou
de repente acordada por essa coceira de que não tenho lar.
Alguns justificam tal desenvoltura
com a vida peregrina que pode até ser valente. Mas quando não se criam muitos
laços, não há como exigir confiança, muito menos ter esperança de ter uma vida
normal.
Que itinerário maluco que ora me
leva, ora me traz de volta, mas que mancha minha consciência de puro
descontentamento com a situação na qual me encontro. Brasília, Curitiba,
Moçambique, sozinha ou acompanhada, a insatisfação e a busca parecem gritar
para todos que não passo de uma farsa, ou de uma rebelde sem causa que não se
encaixa em lugar nenhum. Sim, minha amiga tem razão: não cabemos em lugar algum.
Não
sou de Marte, nem de Vênus, muito menos de uma cidade só. As pessoas que
conheço não me agüentam em todo momento. Sou inquieta, odeio rotina, me
encontro nua de ilusões. Sou de poucos amigos, viciada em livros, só me aquieto
quando aprendo. Se não sou mais útil, tomo meu rumo, aperto o passo e dou o
fora dali. Os que se incomodam com esta situação estranha, esta vida cigana, me
subestimam. Mas a verdade é que parece que por mais que eu caminhe não
encontrei meu lugar.
(Angela Natel)
https://www.facebook.com/pages/Angela-Natel/137128436426391
angelanatel.wordpress.com
Maio/2014
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