1. Vestida para arrumar marido
Ontem
me perguntaram se eu estava vestida para arrumar marido.
-
Você não me viu vestida para arrumar marido, querido. – Foi a minha resposta a
um caro amigo.
Fiquei
com aquilo na cabeça. Talvez fosse a ajuda que eu precisava para iniciar um
projeto que minha irmã plantou (talvez sem o saber) em minha cabeça e coração
há uns dias atrás: começar a escrever as “Crônicas de uma divorciada”.
E
cá estou eu, ouvindo Michael Jackson e Fun., me inspirando e respirando um
pouco entre um plano de aula de Hebraico e o texto de minha dissertação de
Mestrado em Teologia.
Considero-me
uma mulher normal, apesar de tudo. Mais do que já me considerei anteriormente.
Hoje, aos trinta e cinco anos, divorciada há três, sozinha há cinco, desde que
retornei da África. Mas há tempo para falarmos disso. Voltemos ao assunto do
momento: vestida para arrumar marido.
Tenho
aprendido o valor de uma roupa. A cada dia descubro o poder que um uniforme
exerce sobre uma pessoa, a magia que existe no papel assumido quando se escolhe
determinada cor, o comprimento do vestido, o jogo de sobreposições. Tenho
aprendido a ser mais sóbria, consciente de mim mesma, de marcar presença e
valorizar cada momento, escolhendo um traje apropriado. Mas, será que existe a
tal roupa para arrumar marido?
Quando
conheci meu ex (que Deus o tenha, mesmo em vida), eu de longe era preocupada
com a aparência. É claro que eu sabia que a visão é um sentido importante para
os homens, mas somente o namoro e o casamento me trouxeram a sensibilidade e
afloraram em mim a criatividade da provocação. Pitadas de sutilezas começaram a
surgir, transparências propositais, detalhes em renda, cetim, contrastes, como
uma festa à fantasia num jogo de esconde-esconde, onde só sai perdendo quem
assim o desejar.
A
cor da lingerie, o tecido macio sobre a pele, o conforto e a exuberância de um
vestido, são como pincéis desenhando sobre nosso corpo a tela que desejamos expor
ao mundo naquele momento. Somos, portanto, artistas do dia-a-dia, pintando e
enfeitiçando as almas famintas com o que temos à disposição: nós mesmos.
Já
me vesti tentando ser hippie, rebelde, desleixada (sim, de propósito), roqueira,
maloqueira, desarrumada, fui acidentalmente de pantufas para a escola, não
gosto de Havaianas, prefiro Rider, e definitivamente amo vestidos, de tecido
fresco, esvoaçante. Sinto falta de calças pantalonas, pelo estilo e pelo
conforto. E, como tenho seios fartos, preciso ter atenção ao sutiã ou soutien (do francês soutien: suporte) e aos decotes.
Se
tem algo que aprecio hoje em dia é uma boa escolha, e as roupas se tornaram,
ainda que não minha prioridade, um detalhe importante no jogo da vida, onde
cada um exerce seu papel, escolhe a sua máscara e atua em defesa de todas as
suas convicções. É por isso que não me vesti para arrumar um marido ontem à
noite, mas com certeza tive a intenção de ser notada.
Angela Natel
Março de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário