A partir de nossas
inseguranças, traumas e receios, por vezes colocamos uma sobredose de energia
em nos protegermos de algo que elegemos como nosso maior medo ou o maior
inimigo.
Muitas vezes, nem sabemos de fato se esse é um
receio nosso ou algo que nos foi incutido socialmente.
No amor romântico e monogâmico, por exemplo,
entende-se que a pior coisa que poderia acontecer seria a pessoa que amamos se
interessar, se apaixonar por outra pessoa.
E é em torno disso que a vigilância, a noção de
segurança e proteção se centralizam.
Essa atenção demasiada investida em combater
esse suposto inimigo, por vezes nos deixa desprotegidos para uma série de
outras tantas vulnerabilidades.
Julgar a qualidade de alguém a partir de sua
vida afetivo-sexual não é um bom critério.
Talvez outras questões possam ser mais
concretas: essa pessoa é uma boa companheira? Escuta, incentiva, ampara?
Atacar fantasmas morais é como o uso exagerado
de um antibiótico que para combater um tipo de bactéria elimina outras tantas ao
mesmo tempo. Outras que são importantes para a defesa de nosso organismo.
Esse desequilíbrio na proteção, esse exagero de
cuidado e controle em apenas uma parte deixa as demais desprotegidas.
O trabalho e o desgaste desse centramento nos
deixa fragilizadas e exaustas para outros tantos enfrentamentos que podemos
ter.
Diante disso, é sempre importante avaliar de que
maneira estamos gestionando e direcionando nossa força de contra-ataque e
proteção.
O modo como os outros irão sentir, reagir e
lidar conosco e com as demais pessoas não está no nosso controle, tentar se
hiperproteger disso nos deixa exaustas e enfraquecidas.
Que nunca estejamos imunes ao contágio daquilo
que é novo, desafiador ou diferente da norma, mas que no entanto nos impulsiona
para a vida.
"Se o terrível nos golpeia e não sofremos,
algo está errado.
Pois como não chorar, se o destino nos faz
sangrar? Se não choramos é porque o coração está doente, perdeu a capacidade de
sentir. Mas sofrer fora de hora é doença também, permitir-se ser cortado por
golpes que ainda não aconteceram e que só existem como fantasmas da imaginação.
(...)"
Rubem Alves - Lição de bichos.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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