sábado, 5 de agosto de 2023

Quando a superproteção desprotege.

 


A partir de nossas inseguranças, traumas e receios, por vezes colocamos uma sobredose de energia em nos protegermos de algo que elegemos como nosso maior medo ou o maior inimigo.
Muitas vezes, nem sabemos de fato se esse é um receio nosso ou algo que nos foi incutido socialmente.
No amor romântico e monogâmico, por exemplo, entende-se que a pior coisa que poderia acontecer seria a pessoa que amamos se interessar, se apaixonar por outra pessoa.
E é em torno disso que a vigilância, a noção de segurança e proteção se centralizam.
Essa atenção demasiada investida em combater esse suposto inimigo, por vezes nos deixa desprotegidos para uma série de outras tantas vulnerabilidades.
Julgar a qualidade de alguém a partir de sua vida afetivo-sexual não é um bom critério.
Talvez outras questões possam ser mais concretas: essa pessoa é uma boa companheira? Escuta, incentiva, ampara?
Atacar fantasmas morais é como o uso exagerado de um antibiótico que para combater um tipo de bactéria elimina outras tantas ao mesmo tempo. Outras que são importantes para a defesa de nosso organismo.
Esse desequilíbrio na proteção, esse exagero de cuidado e controle em apenas uma parte deixa as demais desprotegidas.
O trabalho e o desgaste desse centramento nos deixa fragilizadas e exaustas para outros tantos enfrentamentos que podemos ter.
Diante disso, é sempre importante avaliar de que maneira estamos gestionando e direcionando nossa força de contra-ataque e proteção.
O modo como os outros irão sentir, reagir e lidar conosco e com as demais pessoas não está no nosso controle, tentar se hiperproteger disso nos deixa exaustas e enfraquecidas.
Que nunca estejamos imunes ao contágio daquilo que é novo, desafiador ou diferente da norma, mas que no entanto nos impulsiona para a vida.
"Se o terrível nos golpeia e não sofremos, algo está errado.
Pois como não chorar, se o destino nos faz sangrar? Se não choramos é porque o coração está doente, perdeu a capacidade de sentir. Mas sofrer fora de hora é doença também, permitir-se ser cortado por golpes que ainda não aconteceram e que só existem como fantasmas da imaginação. (...)"
Rubem Alves - Lição de bichos.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s 


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Quando a superproteção desprotege.

 


A partir de nossas inseguranças, traumas e receios, por vezes colocamos uma sobredose de energia em nos protegermos de algo que elegemos como nosso maior medo ou o maior inimigo.
Muitas vezes, nem sabemos de fato se esse é um receio nosso ou algo que nos foi incutido socialmente.
No amor romântico e monogâmico, por exemplo, entende-se que a pior coisa que poderia acontecer seria a pessoa que amamos se interessar, se apaixonar por outra pessoa.
E é em torno disso que a vigilância, a noção de segurança e proteção se centralizam.
Essa atenção demasiada investida em combater esse suposto inimigo, por vezes nos deixa desprotegidos para uma série de outras tantas vulnerabilidades.
Julgar a qualidade de alguém a partir de sua vida afetivo-sexual não é um bom critério.
Talvez outras questões possam ser mais concretas: essa pessoa é uma boa companheira? Escuta, incentiva, ampara?
Atacar fantasmas morais é como o uso exagerado de um antibiótico que para combater um tipo de bactéria elimina outras tantas ao mesmo tempo. Outras que são importantes para a defesa de nosso organismo.
Esse desequilíbrio na proteção, esse exagero de cuidado e controle em apenas uma parte deixa as demais desprotegidas.
O trabalho e o desgaste desse centramento nos deixa fragilizadas e exaustas para outros tantos enfrentamentos que podemos ter.
Diante disso, é sempre importante avaliar de que maneira estamos gestionando e direcionando nossa força de contra-ataque e proteção.
O modo como os outros irão sentir, reagir e lidar conosco e com as demais pessoas não está no nosso controle, tentar se hiperproteger disso nos deixa exaustas e enfraquecidas.
Que nunca estejamos imunes ao contágio daquilo que é novo, desafiador ou diferente da norma, mas que no entanto nos impulsiona para a vida.
"Se o terrível nos golpeia e não sofremos, algo está errado.
Pois como não chorar, se o destino nos faz sangrar? Se não choramos é porque o coração está doente, perdeu a capacidade de sentir. Mas sofrer fora de hora é doença também, permitir-se ser cortado por golpes que ainda não aconteceram e que só existem como fantasmas da imaginação. (...)"
Rubem Alves - Lição de bichos.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s