Talvez você já
saiba, mas não custa relembrar que:
Seu dia não precisa ser menos feliz porque hoje você não tem uma relação que
caiba nesse formato de casal-namoro
Lembra das outras tantas pessoas que te amam, que você ama e que te respeitam
como você é
Há uma obsessão pela reafirmação da norma monogâmica, romântica,
heteronormativa que busca fazer todos que não cabem nela se sentirem em falta
com algo
Se essa norma fosse algo espontâneo, não precisaria pregar ininterruptamente
sua verdade, seu modelo coercitivo de relação em igrejas, nas famílias, nos
livros, filmes, séries
Podemos sim, amar também nesse dia, mas lembremos que muitas dessas datas são
como cultos de uma certa moral cristã, capitalista, hegemônica que faz poluição
sonora, visual, emocional, invadindo o tempo e espaço mesmo de quem nela não
crê
Se você finalizou uma relação que não estava te trazendo saúde, você não é uma
pessoa fracassada por isso
Se a palavra solteiro vem de "estar sozinho", questionemos essa ideia
de que só conta como companhia a pessoa com quem se tem amor romântico
Por outro lado, sabemos que os status de relacionamentos normativos nem sempre
asseguram companhia, apoio, afeto
Não é porque algo nos foi negado, que se torna algo automaticamente bom, a ser
desejado e almejado
É pelo nosso imaginário que somos convencidos a desejar e a querer fazer parte
da norma, apresentada como os finais felizes da vida
Mas é motivo de orgulho quando percebemos que não seguir o mesmo roteiro
monotemático direcionado a bilhões de pessoas, nos abre espaço para
construirmos nossas relações de infinitas outras formas, com outros termos, com
outros tempos e desejos.
Não fazer parte da norma não significa que amemos menos, que nos apaixonamos
menos, que não haja muita ternura e encanto em nossas vidas.
Quem se contrapõe à norma não é invejoso ou ressentido, pois já não deseja ser
incluído nela, pelo contrário, festeja e afirma seu próprio desvio.
"Há críticos que, em vez de me julgarem pelo que sou, julgam-me pelo que
eu não sou.
É como quem olhasse um pessegueiro e dissesse: "Mas isso não é um
trator!" Mario Quintana.
Observação:
Você está ciente de que não monogamia é literalmente criminalizada no código
penal? Que é um pecado nas igrejas? Uma aberração nas famílias? Não existe uma
lei de pessoas não mono proibindo a monogamia, nem igrejas não mono dizendo que
monogamia é pecado, nenhuma família expulsa seus filhos de casa por serem
monogâmicos, ninguém perde o emprego por ser monogâmico. Em nenhuma parte do
texto eu digo que quem posta fotos com quem ama hoje é necessariamente cristão,
hetero, monogâmico. Pelo contrário, eu literalmente disse que naturalmente
podemos sim amar nesse dia. Eu obviamente sei que há pessoas dissidentes
LGBTQIA+ que são monogamicas, assim como sei que muitas são cristãs, de
direita, etc. A imposição de um único jeito de viver as relações é global, é
evidente que também afeta comunidades dissidentes. Quem se afeta com a
sexualidade alheia é a monogamia, a heteronorma, tanto por isso não existe
heterofobia, cristofobia ou monofobia. Reforço, não existe imposição de não
monogamia, aludir a isso é como acreditar em ditadura gay. Meu simples post
refletindo sobre essas imposições coloniais tem o mesmo poder que séculos de
Igreja, Estado e Família? Não existe opressão por fazer parte da norma, ninguém
diz que quem faz parte dela é inferior, isso é uma inversão absurda. Fico
impressionada em como mesmo essa pregação monogâmica cristã ser imposta a
bilhões de pessoas, é meu posicionamento que teria o poder de fazer "o
mesmo" ao contrário, rs. Quando pessoas dissidentes afirmam com alegria
seu desvio da norma, isso não é um movimento para inferiorizar pessoas com
identidades normativas. Pelo contrário, as identidades coloniais que necessariamente
se positivam através da nossa negativação. Como diz Fanon, o sonho de dominar o
mundo é um sonho branco, colonizador. E ser contra a colonização jamais será
parte desse projeto, por mais que tentem se projetar em nossas lutas.
Geni Nuñez -
@genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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