A imposição da
monogamia foi o principal desafio dos missionários invasores, pois sem ela não
seria possível o batismo e sem ele, todo o sucesso da obra civilizatória cristã
estaria ameaçado (Vânia Moreira).
Mas o que essa monogamia significava?
Alinhada ao monoteísmo cristão, a monogamia era parte da ideologia que afirmava
que só se podia ter um único deus, que todos os demais eram falsos e deveriam
ser destruídos.
Por não reconhecerem como legítimas outras espiritualidades é que tentavam nos
converter, pois viam a diversidade como uma inimiga de sua fé. Foi o racismo
religioso que amparou e ampara a monocultura da fé e dos afetos.
A monogamia era um sacramento porque se entendia que era também um compromisso
com deus, portanto, não poderia ser quebrado. A prova de amor e fidelidade a
esse deus exigia uma exclusividade: os povos que adoravam outros deuses eram
"adúlteros".
No centro disso, havia o princípio da indissolubilidade do vínculo: não bastava
ser apenas com uma pessoa ou amar esse deus por tempo limitado, tinha de ser
"para sempre". Daí a oposição dos cristãos ao direito ao divórcio. Já
nossos povos, não tinham esse marco temporal, viviam juntos apenas enquanto
queriam.
A monogamia "raiz" do cristianismo impunha, assim, que só se poderia
ter um único casamento por toda a vida e a relação só poderia ser interrompida
por dois motivos: adultério ou morte (razões como agressão e estupro, por
exemplo, não seriam "justas").
Os monogâmicos de hoje, em sua maioria, já tiveram mais de uma relação
afetivo-sexual, de maneira que o princípio de ter apenas um casamento por toda
a vida (mono/gamia) vem sendo frequentemente quebrado.
O que permanece, contudo, é a negação da concomitância.
Nessa monogamia contemporânea, até se tolera ter mais de um amor na vida, desde
que um de cada vez.
Esse é o principal núcleo da monocultura: não admitir a (possibilidade de)
concomitância.
É essa negação que lhes impede de acolher a complexidade da vida, em sua
multiplicidade infinita.
É o que faz a beleza da floresta, é o que faz da monocultura uma escassez.
Referências:
MOREIRA, Vania Maria Losada. Casamentos indígenas, casamentos mistos e política
na América portuguesa: amizade, negociação, capitulação e assimilação social.
Topoi (Rio de Janeiro), [S.L.], v. 19, n. 39, p. 29-52, set. 2018. FapUNIFESP
(SciELO).
ANCHIETA, Pe. Joseph de, S.J. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e
Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 354.
Texto de Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni
Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

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