Já ouvi muitas
mulheres heterossexuais "brincando" que gostariam de deixar de ser
hetero.
Ao mesmo tempo, lamentam não ser algo de sua escolha, atribuindo a
heterossexualidade a um fator de nascença.
Algumas explicam sua heterossexualidade por naturalmente "gostarem de
pênis", isso se contradiz quando vemos que, na verdade, estão se referindo
apenas ao pênis cisgênero.
O primeiro passo para deixar de ser hétero é parar de achar que
heterossexualidade é simplesmente atração sexual, é um sistema político.
O segundo, é descentralizar o sexo das principais decisões da vida.
Por que você precisa conceber todos os seus projetos de vida, necessariamente e
apenas com quem transa?
O que é solidão? Suas amigas, por exemplo, não contam como companhia? Como
companheiras, como amores?
Questionar a hierarquia amor x amizade é fundamental para desconstruir o amor romântico.
O terceiro ponto é reavaliar o que conta como sexo e como sexualidade,
alargando as possibilidades de prazer para além da genitalização muito da ideia
de orientação sexual se enfraquece.
Só é possível deixar de ser hétero quando se desiste de ser "mulher de
verdade", essa que é ensinada a agradar homem, a buscar um homem para
dividir a vida, a casa, o cuidado das crianças.
Porém ser "homem de verdade" é justamente não fazer nada disso. Os
homens que limpam a casa, cozinham e cuidam das crianças são tidos como menos
homens justamente por isso.
Para além de ter fé em achar "homens bons" que te
completem/complementem, a chave está em não ter mais o desejo de preencher esse
lugar (nem com homem, nem com mulher).
Abandonar os sonhos do amor romântico e da monogamia, é abrir espaço para
outros imaginários, outros vínculos nos quais o sexo pode ou não estar
presente, mas nunca como origem e destino.
Não será apelando para a boa consciência dos homens cis que eles abandonarão
seus privilégios.
A ideia de homem só existe em contraposição a de mulher, portanto quando
rejeitamos coletiva e politicamente, o papel de mulher, desarticulamos também o
de homem.
Em vez de tentar ressignificar o que é essencialmente violento, que apostemos
nossas energias em sair dessas tramas.
Ex-mulher, com orgulho.
Referências:
- Heterossexualidade compulsória, Adrienne Rich.
- O parentesco é sempre Heterossexual? - Judith Butler.
Texto de Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni
Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dê o seu rugido: