Hoje entendo que
 a maior parte 
de meu comportamento 
se  resumia a repetir 
padrões  considerados 
‘normais’, tanto no que 
diz respeito à socialização
 quanto à sexualidade. 
Assim,  entrei na brincadeira 
e aos 12 anos dei um 
beijo  só de lábios pela 
primeira vez, conquistando 
a aceitação  na escola. 
Ao mesmo  tempo, no 
ambiente religioso 
fui sendo cada vez mais 
aclamada  como exemplo, 
uma vez que não
 me envolvia de forma romântica
 ou sexual com ninguém. Isso não
 significa que eu não me 
considerasse apaixonada, ou 
romântica, e sempre busquei companheirismo e amizades profundas com as pessoas, 
independentemente  de sua identidade sexual.
Dessa maneira, aos 16 anos eu já era líder de grupo de jovens e aproveitada para 
discursar sobre o compromisso dos jovens se guardarem sexualmente até o casamento. 
Assim, fui instrumento de regras 
fundamentalistas dentro da instituição religiosa, repetindo padrões de comportamento
 considerados aceitáveis dentro desses ambientes a fim de me encaixar socialmente pois, 
de fato, eu não sabia como fazê-lo.
No que diz respeito ao meu relacionamento com Deus, sempre foi muito marcado por 
crises existenciais, orações mecanicistas e novamente por repetições de padrão. O 
autismo – cujo diagnóstico só recebi recentemente – se mostrava no fato de eu ter 
extrema dificuldade em orar falando, e quando o fazia em público seguia fórmulas 
que eu já havia estudado e percebido que funcionavam. Eu orava por escrito, 
repetindo e atualizando textos bíblicos às minhas vivências. Quanto à sexualidade, 
era um assunto inexistente em meu relacionamento com Deus, e isso afetava a forma 
como eu enxergava Deus – um homem assexual. Assim, a sexualidade dificilmente 
aparecia em minha hermenêutica e quando surgia, para fins de estudo em comunidade, 
era repetição de falas de quem era considerado padrão sexual para o ambiente da Igreja.
Fiz seminário teológico, o curso de magistério (formação de professores) e cursei 
a faculdade de Letras Português-Inglês. Aos 24 anos fui para Moçambique como 
missionária. Ao todo, entre idas e vindas, 
morei 4 anos em Moçambique, onde me encontrei em situação de extrema 
vulnerabilidade. O foco de meu ensino, que hoje considero como colonizador e 
opressor, era contra ‘heresias’ (falsos ensinos) e sincretismo religioso. Nesse contexto,
 em meio à carência emocional, aos 28 anos de idade, conheci um nigeriano que 
morava no país. Confundindo amor romântico com sexualidade, casei-me, sem ter noção 
alguma do que envolvia um casamento. Todas as orientações que recebi a esse respeito 
foram por parte de pastores da Igreja, que em momento algum me esclareceram de 
fato como tudo devia funcionar. 
Em minha lua-de-mel lembro de ter me assustado e dito vários ‘nãos’, mas não fui 
ouvida e em menos de 3 minutos eu estava deitada com muita dor ao lado de alguém 
dormindo como se nada tivesse acontecido. Chorei muito, mas na época eu entendia 
– por causa do ensino da igreja - que era minha obrigação satisfazer meu marido, e 
a cada relação, ainda que ele mais tarde começasse a demonstrar 
interesse em me satisfazer, eu me sentia culpada, como se estivesse apenas encenando
 um teatro para cumprir uma função social. Além de tudo isso, eu sentia que não podia 
ser verdade que o sexo, algo tão enfatizado na sociedade, se resumisse a algo que me 
causava dor, constrangimento, culpa, nojo e desprezo por mim mesma e pelo outro.
Durante o ano em que estive casada, sofri todo tipo de violência: física, psicológica, 
patrimonial, emocional. Ao comunicar isso ao meu pastor na época, ele questionou
 meu marido, que negou tudo, e o pastor me teve por mentirosa, situação que se 
manteve. Doente física e emocional, somente consegui voltar ao Brasil pela 
misericórdia de outro pastor que usou de seus próprios recursos para financiar 
minha passagem. Retornei sozinha ao Brasil, com três malárias, anemia profunda e
 em crises depressivas.
 Num período de um ano, tentei suicídio três vezes, a última vez em meu primeiro
 semestre de volta ao  Brasil.
Me divorciei e, depois disso, foi um longo processo entre psicólogos, psiquiatras e 
outras inúmeras especialidades médicas. Fiz faculdade de Teologia, Mestrado e 
hoje sou doutoranda em Teologia. Decidi  me desligar das instituições religiosas,
 tanto eclesiásticas quanto missionárias, exatamente porque nelas 
só encontrei abuso, manipulação e busca por poder. Nesse tempo é que conheci a
 comunidade LGBTQIA+ e que entendi que havia pessoas assexuais. Aos poucos
 fui me identificando como assexual e depois disso ainda recebi o diagnóstico tardio 
de autismo.
Tudo isso me ajudou a compreender as maneiras pelas quais entendia Deus, a pessoa 
do próprio Jesus como assexual, e minha necessidade de vivenciar a sexualidade
 a fim de ser aceita  socialmente e, principalmente, ser aceita na comunhão da 
igreja. Assexualidade não é um assunto abordado, em nenhum  local que frequentei 
até hoje, e autismo também não. Por isso, minha caminhada tem sido solitária e, na
 maior parte das vezes, incompreendida. 
Optei por uma pesquisa desafiadora em meu doutorado, em torno da Deusa Asherah 
e seu culto, tanto na  Bíblia quanto na arqueologia, sob uma perspectiva diferenciada
 metodologicamente. Nesse sentido, tenho  me inclinado a constantemente desafiar 
os padrões nos quais me conformei a vida toda, e tenho dedicado
 meus dias a um ‘ministério de reparação’, a fim de desfazer os falsos ensinos que 
espalhei por anos por  onde passei.
Hoje me satisfaço em minha incompreensão de Deus, não mais tentando definí-lo, 
da mesma forma que não tento mais me definir, nem permitindo que as estruturas 
de pensamento e convenções sociais delimitem minha fé. Sou grata por viver plena
 sozinha, sem necessidades sexuais, ainda que tenha amigos
 a quem amo muito.
 
Angela Natel – Curitiba/Brasil.
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EN ESPAÑOL
Mi nombre es Ángela y tengo 41 años. Soy teóloga, lingüista, docente e 
investigadora, autista y asexual.
Durante muchos años, gran parte de mi vida, viví bajo el estigma del distanciamiento. 
Como me gustaba estudiar, desde niña, desvié la atención de la gente 
hacia mi desempeño escolar, desviando la atención de
 temas relacionados con la sexualidad y la interacción social.
Hoy, entiendo que la mayor parte de mi comportamiento consistió en
 repetir patrones considerados  "normales", tanto en términos de 
socialización como de sexualidad. Entonces, comencé a jugar y a los 
12 años besé solo en los labios por primera vez, ganando aceptación 
en la escuela. Al mismo tiempo, en  el ámbito religioso fui cada vez
 más aclamado como ejemplo, ya que no me involucraba de forma 
romántica ni sexual con nadie. Esto no significa que no me considerara 
apasionada, ni romántica, y siempre he buscado el compañerismo y la
 amistad profunda con las personas, independientemente de su
 identidad sexual.
Así, a los 16 años ya era líder de un grupo de jóvenes y aproveché 
la oportunidad para hablar sobre el compromiso de los jóvenes de 
mantenerse sexualmente hasta el matrimonio. Entonces, fui un instrumento
 de reglas fundamentalistas dentro de la institución religiosa, 
repitiendo patrones de comportamiento  considerados aceptables
 dentro de estos entornos para encajar socialmente porque, de hecho, no sabía
 cómo hacerlo.
Con respecto a mi relación con Dios, siempre ha estado marcada 
por crisis existenciales, oraciones mecanicistas y nuevamente 
por repeticiones de patrones. El autismo -cuyo diagnóstico recibí 
recientemente- se demostró por el hecho de que tenía una dificultad 
extrema para orar mientras hablaba,  y cuando lo hacía en público
 seguía fórmulas que ya había estudiado y encontré que funcionaban. 
Oré  por escrito, repitiendo y actualizando los textos bíblicos a 
mis experiencias. En cuanto a la sexualidad, no era un problema
 en mi relación con Dios y afectó la forma en que veía a Dios:
 un hombre asexual. 
Así, la sexualidad apenas apareció en mi hermenéutica y 
cuando apareció, a los efectos del estudio comunitario, fue 
una repetición de los discursos de quienes eran considerados
 estándares sexuales para el entorno de la Iglesia.
Hice un seminario teológico, el curso de docencia (formación
 de profesores) y asistí a la Facultad de Letras Portugués-
Inglés. A los 24 años fui a Mozambique como misionera. 
En total, entre idas y venidas,  viví 4 años en Mozambique,
 donde me encontré en una situación de extrema vulnerabilidad.
 El enfoque  de mi enseñanza, que ahora considero colonizador
 y opresor, estaba en contra de las "herejías" (falsas 
enseñanzas) y el sincretismo religioso. En este contexto, en 
medio de la privación emocional, a los 28 
años, conocí a un nigeriano que vivía en el país. Confundiendo 
el amor romántico con la sexualidad, me  casé sin tener idea
 de lo que implicaba un matrimonio. Todas las instrucciones
 que recibí al respecto fueron de pastores de la Iglesia, quienes 
nunca me explicaron realmente cómo debía funcionar todo.